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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Pentágono anuncia permanência de 9.000 homens prestes a retornar e enfrenta crise de moral entre tropas

EUA prolongam estada de seus soldados

RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT"

O Pentágono anunciou ontem que milhares de soldados da infantaria dos EUA ficarão no Iraque por tempo indeterminado -quebrando a promessa de que parte das tropas seria dispensada no fim do mês e agravando a crise de moral entre os 148 mil americanos atualmente no país.
A nova determinação reflete a dificuldade dos EUA em persuadir outros países a cooperar com a força de paz sob seu comando, depois de uma guerra cuja legitimidade é cada vez mais questionadas.
A notícia surpreendeu os 9.000 homens e mulheres da 3ª Divisão de Infantaria, que deveriam voltar para casa em breve -muitos dos quais estão na região desde setembro. Essa divisão (que sofreu 36 baixas) foi responsável pelo fulminante ataque a Bagdá.
Os soldados, fartos de servirem sob o sol e em meio a uma população que quer vê-los pelas costas o mais rápido possível, tinham recebido a informação de que deixariam o Iraque até agosto.
Mas, ao invés disso, o major-general Buford Blount disse-lhes ontem que permaneceriam no país "devido à incerteza da situação no Iraque" e ao aumento dos ataques contra tropas dos EUA, que chegaram a 25 por dia e causaram 32 baixas americanas desde o anúncio do fim dos principais combates, em 1º de maio. Ontem, soldados mataram cinco iraquianos que tentaram emboscá-los em Habbaniah (oeste).
"Disseram-nos três vezes que voltaríamos para casa em poucos meses. Agora não é um bom momento para esse anúncio. Estamos desmotivados", disse o sargento Chris Grisham, membro da inteligência militar, à Reuters. "Tem sido difícil. Tive que levar para casa uma criança de sete anos cujo pai morreu em um tiroteio. A família só chorava. Tenho certeza que tentarão se vingar. É assim que funciona no Iraque."
Na raiz do problema, está o fato de as tropas dos EUA estarem trabalhando no limite, somado à recusa de diversos países em contribuir militarmente sem um mandado da ONU. O Comando Central Americano (Centcom) emitiu, na noite de ontem, um comunicado dizendo que pretende dispensar a 3ª Divisão de Infantaria até setembro, contanto que forças internacionais a substituam.
A Polônia contribuirá com 2.300 soldados para uma brigada que incluirá unidades da Bulgária, da Romênia, da Hungria e da Lituânia. A Ucrânia, a Espanha, Honduras, a República Dominicana, El Salvador e a Nicarágua contribuirão com a segunda brigada.
Mas vários países não aceitaram participar. Depois que a Índia negou suas tropas, o presidente da França, Jacques Chirac -um dos maiores opositores da guerra-, declarou que "não imagina" o envio de soldados franceses ao Iraque "no atual contexto". Os fatos confirmam o alerta do general Eric Shinseki, ex-comandante do Exército, ao deixar o cargo no mês passado. Para ele, "é perigoso executar uma estratégia para 12 divisões com um Exército de dez".


Com agências internacionais


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