São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2000


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ÁSIA
Reunião é novo passo na aproximação entre Norte e Sul
Famílias coreanas se reencontram após meio século de separação

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM SEUL

No mais recente sinal da melhora dramática nas relações entre as Coréias do Norte e do Sul, 200 idosos puderam reencontrar seus familiares, ontem, após 50 anos de separação.
Pais, filhos, maridos e mulheres se abraçaram, choraram e desmaiaram em dois hotéis em Seul e Pyongyang, no maior reencontro já promovido entre cidadãos das Coréias do Sul, capitalista, e do Norte, comunista. Pelo menos uma mulher -Chung Sun-hwa, 95- passou mal e precisou ser socorrida por paramédicos depois de rever seu filho pela primeira vez desde o início da Guerra da Coréia, em 1950.
"Papai, seus netos na Coréia do Norte também querem conhece-lo", disse Lim Jae-hyok, 66, prostrando-se diante de seu pai, de 91 anos. "Meu pai, estou vendo seu rosto pela primeira vez em 50 anos. Meu coração está explodindo. Esta talvez seja a última vez em que lhe faço uma reverência."
"A viagem para cá leva menos de uma hora, mas não pudemos vir por 50 anos", disse Lee Rai-song, 68, que desapareceu da Coréia do Sul quando foi fazer uma visita à irmã.
As cenas carregadas de emoção começaram quando um avião comercial de fabricação russa tornou-se a primeira aeronave comercial norte-coreana na história a aterrissar na Coréia do Sul.
Os reencontros foram transmitidos ao vivo pela TV sul-coreana e, também, relatados desde Pyongyang por jornalistas que viajaram à capital da Coréia do Norte, acompanhando a delegação que saiu do Sul para lá.
A troca de visitas se deu no 55º aniversário do fim da 2ª Guerra Mundial, quando a Coréia foi libertada de 35 anos de colonização japonesa. A Guerra da Coréia, de 1950 a 1953, terminou de maneira inconclusiva, sem um tratado formal de paz. Finalmente, em junho deste ano, o presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, viajou a Pyongyang para se reunir com o líder da Coréia do Norte, Kim Jong-il, na primeira cúpula da história entre os líderes dos dois governos.
Os dois assinaram um comunicado prometendo avançar em direção à reunificação coreana, e os reencontros entre familiares promovidos esta semana constituem os resultados mais concretos -e de maior peso psicológico- da cúpula vistos até agora.
Em discurso transmitido a todo o país pela televisão, o presidente Kim disse ontem: "Durante metade de um século voltamos nossas armas contra nossos irmãos e irmãs do outro lado da Linha do Armistício. Dentro em breve, porém, quando colaborarmos com o Norte, nossa esfera de atividades será ampliada para toda a península coreana".
Anteontem o governo da Coréia do Sul anunciou a anistia de 3.586 presos, entre eles dois dos derradeiros espiões comunistas presos. Em setembro, cerca de 60 ex-prisioneiros serão finalmente autorizados a retornar à Coréia do Norte.


Tradução de Clara Allain


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