São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

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"A onda de ar passou pelo meu corpo"

DO ENVIADO A CABUL

Eram 8h33 de mais uma manhã em Cabul quando o celular tocou. Era Salem, o meu assistente afegão, avisando que teríamos de estar às 10h no quartel-general das forças ocidentais em Cabul para recolher minha credencial militar.
Reclamei, já que planejava outra entrevista para o horário, mas não havia muito o que fazer. Foi quando a bomba explodiu, na altura dos dois minutos de conversa. O som foi alto, e todas as janelas do meu quarto tremeram, assim como a TV ligada.
Uma das janelas do meu quarto estava aberta, e a onda de ar literalmente passou pelo meu corpo. Duas janelas da pousada racharam. E estamos a 2 km do lugar da explosão.
"Meu Deus, essa foi enorme", gritou Salem, dizendo estar bem. "Nunca tinha visto algo assim", disse logo depois Emmet, holandês que trabalha como consultor do governo afegão e mora na pousada há um ano. "Não saiam. Sempre que uma explode, vem outra para pegar os curiosos", disse.
Não segui seu conselho e cheguei ao local em 40 minutos. Havia policiais coalhando cada esquina da cidade, bem como alguns dos 4.150 jipes blindados Humvee cedidos pelos EUA ao Exército afegão.
Perto do lugar do atentado, a situação mudou. O Exército afegão era quase tão espectador quanto os jornalistas. Blindados leves italianos fecharam o acesso ao lugar, e modelos mais pesados franceses interditaram a rua na altura da Embaixada da Espanha, ao lado do QG.
Havia rastros de sangue no chão, e ao menos quatro ambulâncias deixaram a área quando a Folha chegou. Abdel Shah, limpador de rua que estava a uns 200 metros dali, disse que a explosão o jogou no chão, mas não o feriu. "Vi pessoas gritando de dor."
Enquanto isso, italianos e franceses não se entendiam -como de costume. Em inglês macarrônico, tentavam decidir quem cuidava de qual área. Foi assim até um soldado americano de pistola calibre 45 na cintura chegar e passar orientações.
Em seguida, o general canadense Eric Tremblay falou à imprensa. Disse generalidades sobre o ataque, sobre o mal que o Taleban representa e avaliou que "o objetivo deles de nos atingir não [foi cumprido]". "Há sempre risco residual aqui."
E pensar que eu reclamei do horário com Salem; uma hora e meia a menos e eu poderia ser vítima do "risco residual" do general Tremblay. (IG)


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