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"A onda de ar passou pelo meu corpo"
DO ENVIADO A CABUL
Eram 8h33 de mais uma
manhã em Cabul quando o
celular tocou. Era Salem, o
meu assistente afegão, avisando que teríamos de estar às 10h no quartel-general das forças ocidentais
em Cabul para recolher
minha credencial militar.
Reclamei, já que planejava outra entrevista para
o horário, mas não havia
muito o que fazer. Foi
quando a bomba explodiu,
na altura dos dois minutos
de conversa. O som foi alto, e todas as janelas do
meu quarto tremeram, assim como a TV ligada.
Uma das janelas do meu
quarto estava aberta, e a
onda de ar literalmente
passou pelo meu corpo.
Duas janelas da pousada
racharam. E estamos a 2
km do lugar da explosão.
"Meu Deus, essa foi
enorme", gritou Salem, dizendo estar bem. "Nunca
tinha visto algo assim",
disse logo depois Emmet,
holandês que trabalha como consultor do governo
afegão e mora na pousada
há um ano. "Não saiam.
Sempre que uma explode,
vem outra para pegar os
curiosos", disse.
Não segui seu conselho
e cheguei ao local em 40
minutos. Havia policiais
coalhando cada esquina da
cidade, bem como alguns
dos 4.150 jipes blindados
Humvee cedidos pelos
EUA ao Exército afegão.
Perto do lugar do atentado, a situação mudou. O
Exército afegão era quase
tão espectador quanto os
jornalistas. Blindados leves italianos fecharam o
acesso ao lugar, e modelos
mais pesados franceses interditaram a rua na altura
da Embaixada da Espanha, ao lado do QG.
Havia rastros de sangue
no chão, e ao menos quatro ambulâncias deixaram
a área quando a Folha
chegou. Abdel Shah, limpador de rua que estava a
uns 200 metros dali, disse
que a explosão o jogou no
chão, mas não o feriu. "Vi
pessoas gritando de dor."
Enquanto isso, italianos
e franceses não se entendiam -como de costume.
Em inglês macarrônico,
tentavam decidir quem
cuidava de qual área. Foi
assim até um soldado
americano de pistola calibre 45 na cintura chegar e
passar orientações.
Em seguida, o general
canadense Eric Tremblay
falou à imprensa. Disse generalidades sobre o ataque, sobre o mal que o Taleban representa e avaliou
que "o objetivo deles de
nos atingir não [foi cumprido]". "Há sempre risco
residual aqui."
E pensar que eu reclamei do horário com Salem; uma hora e meia a
menos e eu poderia ser vítima do "risco residual" do
general Tremblay.
(IG)
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