São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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`JIHAD IN AMERICA´
Entidades sediadas em solo americano são fachadas para organizações extremistas do Oriente Médio
Grupos pró-terror levantam fundos nos EUA

ALESSANDRA BLANCO
enviada especial a Washington

Pelo menos 14 organizações com sede nos Estados Unidos correspondem a braços políticos e centros de arrecadação de fundos para grupos extremistas islâmicos, como os palestinos Hamas e Jihad e o libanês Hizbollah.
Essas organizações atuam sob a fachada de entidades de caridade ou grupos de pesquisa. Arrecadam "dezenas de milhares de dólares" por ano para enviar ao Oriente Médio e recrutam jovens para operações terroristas.
Essas informações constam de um dossiê preparado pelo norte-americano Steve Emerson, um ex-correspondente da TV CNN. Em fevereiro último, ele entregou ao Senado dos EUA, que avalia a ameaça do terrorismo ao país, os resultados de suas investigações.
Emerson vive, desde 94, em contato com agentes da CIA, que o informariam sobre eventuais planos de ataque contra ele. Emerson disse, em entrevista à Folha em Washington, que quer evitar "surpresas" de organizações envolvidas com terrorismo.
A partir de 93, Emerson dedicou-se a investigar organizações nos EUA que financiam o terror. No ano seguinte, lançou um documentário com os primeiros resultados de seu trabalho, chamado "Jihad in America" (a palavra jihad, em árabe, pode ser traduzida como guerra santa).
As organizações pesquisadas por Emerson vendem publicações e vídeos, muitas vezes com mensagens extremistas, para arrecadar dinheiro. Dirigem pedidos a muçulmanos, árabes e fundações árabes nos EUA para doações que seriam enviadas às crianças carentes da faixa de Gaza e da Cisjordânia (territórios palestinos conquistados por Israel em 1967). Em reuniões fechadas, pedem recursos para sustentar as famílias de terroristas suicidas.
Emerson disse não dispor de cálculos sobre o montante arrecadado pelas instituições muçulmanas que acusa de canalizar recursos para o terrorismo. "Mas sabemos que a maior parte desse dinheiro vai para a compra de armas", afirmou.
"Outra parte do dinheiro vai para as crianças pobres do Oriente Médio, que são mantidas, por exemplo, por instituições do Hamas", disse.
Segundo ele, essas entidades também usam a ajuda financeira para montar cursos de "formação ideológica" e de treinamento militar para as crianças. Segundo o ex-diretor-adjunto do FBI (polícia federal norte-americana), Oliver Revell, os EUA são hoje uma sede político-estratégica-financeira do Hamas e da Jihad.

Funções
Cada "subsidiária" teria uma função específica. A United Association for Studies and Research (Associação Unida para Estudos e Pesquisas), por exemplo, seria o braço político-ideológico do Hamas, responsável por difundir suas idéias nos EUA.
Vídeos são uma das principais ferramentas das campanhas financeiras. Emerson descreveu parte da propaganda: "Eles dizem: "Tenho uma lista com 16 mártires (terroristas suicidas), alguns morreram em operações ambiciosas; outros, em ataques. As famílias precisam de sua assistência. Cada mártir precisa de US$ 1.000. Quem pode financiar dez mártires?".
A Islamic Association for Palestine (Associação Islâmica para a Palestina) vende publicações e vídeos, em árabe e inglês, que trazem mensagens como: "O poder de matar os americanos e seus aliados -civis e militares- é um dever individual de cada muçulmano...".
A IAP seria também responsável por organizar conferências nos EUA dos principais líderes extremistas islâmicos. A maior delas, em 1991, em Washington, teria reunido nomes como Mousa Abu Marzook, dirigente do Hamas, Ramadan Abdullah Shallah, da Jihad, e Omar Abdul Rahman, que planejou o atentado ao World Trade Center, de Nova York.
Após o atentado contra o World Trade Center, a maioria desses líderes foi preso ou deportado dos EUA. Os encontros, no entanto, continuam a ocorrer. "Há dois meses, outra conferência ocorreu em Nova York. Só que eles estão muito mais cuidadosos", afirmou Emerson.



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