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Líbia busca aceitação com megaprojeto ambiental
País, pária até 2003, apela a tema popular para selar sua reintegração internacional
Idealizado por Saif al Islam Gaddafi, filho do ditador, Projeto Montanha Verde, na costa mediterrânea, não tem prazo nem valor certo
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA A CIRENE (LÍBIA)
Apostando na popularidade
da questão ambiental, a Líbia
lançou nesta semana um megaplano de desenvolvimento sustentável e ecoturismo, em mais
um movimento do antigo país
pária do ditador Muammar
Gaddafi para reabilitar sua
imagem internacional e cair
nas graças do Ocidente.
O foco da iniciativa é a região
da Montanha Verde, na costa
mediterrânea, que concentra
um dos mais importantes sítios
arqueológicos do país, com ruínas romanas e gregas de mais
de 2.000 anos espalhadas por
5.500 km2, além de 220 km de
praias, em sua maioria virgens.
A apresentação coube ao
próprio idealizador do projeto,
Saif al Islam Gaddafi, filho do
ditador e provavelmente a face
mais visível da tentativa de reabilitação do país norte-africano. A uma platéia de 300 convidados, entre especialistas, jornalistas ocidentais e participantes do projeto -a maioria
trazida especialmente em vôos
charter- e no meio das ruínas
de um ginásio romano na cidade de Cirene, Gaddafi anunciou
o Projeto Montanha Verde, "a
maior região sustentável do
mundo", na última segunda.
"A mudança climática é um
problema global. Mas soluções
globais começam com soluções
locais", afirmou em um discurso recheado de "palavras mágicas" como conservação, microcrédito e biocombustíveis.
"No nosso continente não é
comum falar de ecoturismo,
ambiente, emissão de gases.
Mas [esses] são grandes temas
no mundo desenvolvido, como
Europa, Japão e América do
Norte. É hora de nos juntarmos
aos países desenvolvidos e
mostrarmos que na questão
ambiental somos civilizados",
respondeu Islam à Folha na
entrevista coletiva que seguiu o
lançamento. "Há muito a modernizar no país e [o projeto] é
parte desse mosaico."
Hotéis de luxo
O plano-piloto começa pela
construção de três hotéis de luxo, financiados pelo milionário
líbio do ramo do petróleo Hassan Tatanaki -todos seguindo
princípios ecologicamente corretos como o uso de energia solar e eólica e ventilação natural.
Inclui ainda a restauração
das ruínas, a construção de escolas e hospitais e prevê que os
veículos em circulação sejam
movidos por eletricidade ou
combustíveis não-derivados do
petróleo. Nada poderá ser
construído em uma faixa considerável do litoral.
E há ainda a estimativa nada
pessimista de criar cerca de
200 mil postos de trabalho.
Quanto a custos e prazos para que o projeto saia do papel,
tudo é vago. Fala-se apenas em
"décadas" de implementação e
"bilhões de dólares" em investimentos -somas indefinidas
em fundos líbios, parcerias público-privadas e investimentos
estrangeiros. Os trabalhos começaram há menos de dois meses e serão administrados pela
recém-criada Autoridade de
Conservação e Desenvolvimento da Montanha Verde.
"Cachorro louco"
O processo de reabilitação da
Líbia começou em 2003, quando o regime de Gaddafi anunciou o fim de seu programa nuclear e foram levantadas as sanções impostas 11 anos antes pela ONU. Desde então, Muammar Gaddafi passou de "o cachorro louco do Oriente Médio", nas palavras do ex-presidente americano Ronald Reagan, para "muito fácil de se
lidar", segundo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.
Outro capítulo importante,
no qual Islam teve um papel
crucial, foi a libertação das enfermeiras búlgaras condenadas
à morte por, segundo acusação
do governo, terem infectado
crianças com o vírus da Aids em
um hospital em Benghazi. Como prêmio, a Líbia abocanhou
um acordo para a compra de armas da França e a realização de
exercícios militares conjuntos.
Até o fim do ano, é esperada a
visita de Condoleezza Rice -a
primeira de um secretário de
Estado americano em mais de
cinco décadas.
O mais novo capítulo, dizem
seus defensores, é o Projeto
Montanha Verde. "É a Líbia dizendo para o mundo: somos
um país diferente", disse Joe
Stanislaw, cuja empresa de planejamento estratégico é um
dos participantes.
"Vamos mostrar ao mundo
que a Líbia está preparada para
assumir a liderança em um tema importante que é a mudança climática. E por que a Líbia
está fazendo isso? Porque o
mundo está dizendo: queremos
você de volta."
A jornalista CAROLINA VILA-NOVA viajou à Líbia a convite do Gulf Tourism International
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