|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estupro leva líder polígamo à Justiça
Julgamento de Warren Jeffs chama atenção para os fugitivos de seita no Estado de Utah, nos EUA
Jeffs é acusado de cumplicidade em violação por obrigar jovem de 14 anos a se casar; defesa diz que há perseguição religiosa
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Nos EUA a poligamia pode
até fazer sucesso nas telas: o seriado "Big Love", da rede HBO,
tem um protagonista com três
mulheres e é assistido por cerca
de 4 milhões de pessoas. Mas
na vida real o tema não tem
tanta graça. Prova disso é a polêmica causada pelo início do
julgamento em Utah, no última
dia 13, de Warren Jeffs, líder da
seita poligâmica Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias
-FLDS, na sigla em inglês.
Jeffs, 51, foi acusado de cumplicidade no estupro de uma
adolescente de 14 anos em
2001. Segundo promotores, ele
ordenou que a menina se casasse com um primo cinco anos
mais velho e a orientou a "procriar". "Senti-me como se estivesse me preparando para
morrer. Warren ignorou completamente o fato de que eu não
queria me casar", testemunhou
a jovem no tribunal anteontem.
Para a defesa, o julgamento
não passa de perseguição religiosa: na FLDS, os casamentos
arranjados, assim como a poligamia, são dogmas de fé.
Pouco antes do julgamento
de Jeffs, outra decisão legal sobre o tema foi foco de manchetes: Tom Green, 59, recebeu liberdade condicional em Utah
em agosto depois de cumprir
pena por poligamia. Ele foi
também acusado de estupro,
por manter relações com uma
enteada de 13 anos -que depois se casou com ele.
A vitória de Green, porém,
não foi comemorada por todos
os defensores dos casamentos
múltiplos. "As pessoas têm que
saber que poligamia não significa se casar com meninas de 13
anos", afirmou então o defensor da causa Mark Henkel, no
site pro-polygamy.com.
Apesar de Jeffs não ser acusado propriamente de poligamia, o tema perpassa todo o julgamento. A FLDS prega que,
para chegar ao paraíso, um homem precisa ter pelo menos
três mulheres.
Fugitivos
Os casamentos forçados e as
rígidas regras da FLDS não
criam problemas apenas na
Justiça. Um número cada vez
maior de meninos e meninas
está deixando a seita, voluntariamente ou não, para "chegarem completamente despreparados a um mundo que aprenderam a temer". "Essas crianças não têm nenhuma supervisão, não entendem a cultura
americana", afirmou à Folha
Shannon Price, diretora da Diversity Foundation -que ajuda
os "garotos perdidos" a se ajustarem fora da seita.
Segundo a organização, a
partir 2002 -quando Jeffs assumiu a liderança da FLDS no
lugar de seu pai- a igreja deu
início à expulsão sistemática de
garotos entre 14 e 23 anos, oficialmente por infrações como
falar com garotas ou assistir a
filmes. Críticos da comunidade
afirmam que as expulsões são
uma necessidade matemática:
com os casamentos plurais,
não há mulheres suficientes.
Isso ajuda a explicar por que
apenas 10% dos que saem são
meninas -e voluntariamente.
Do lado de fora, organizações
de apoio ajudam os exilados a
voltar a estudar. Dados da Diversity Foundation indicam
que 99% deles não têm educação formal. Price destaca que
os exilados são "meninos bons
e inteligentes". "Mas, sozinhos,
criam uma mentalidade de
gangue e se envolvem com abuso de substâncias e crime", diz
a diretora.
Segundo ela, a maioria sofre
de estresse pós-traumático e
vivenciou violência doméstica.
Para os exilados, o julgamento
de Jeffs é como uma redenção.
"É como se dissessem: "estávamos certos. Ele é uma pessoa
má. Não deveríamos ter sido
expulsos'", diz Price. Já para a
comunidade, "esta é mais uma
perseguição". "E os seguidores
da FLDS estão acostumados a
serem perseguidos."
Com agências internacionais
Texto Anterior: Para analistas, Gaddafis buscam sobrevivência Próximo Texto: Frase Índice
|