São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2011

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Dalai-lama acha paciência budista em SP

Plateia de empresários aguarda mais de duas horas para ouvir líder tibetano, que se esquiva de tema de negócios

Demora na partida do voo de Buenos Aires causou atraso; público não emitiu sinais de irritação com a espera

Marlene Bergamo/Folhapress
Dalai-lama faz gesto de cumprimento ao chegar ao local de sua palestra, ontem, em São Paulo, com 2h15 de atraso

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

Foi um exercício de paciência budista a espera de duas horas e quinze minutos pelo dalai-lama no Teatro WTC (zona sul de São Paulo).
Nem um pio de reclamação, contudo, ouviu-se dos mais de 500 empresários que lotaram o auditório, enquanto o líder espiritual do budismo tibetano deslocava-se entre Buenos Aires, onde estava até ontem, e São Paulo.
O avião atrasou, um helicóptero que levava o monge até o teatro teve de voltar -do meio do caminho- ao aeroporto de Guarulhos, por falta de teto; o trânsito de São Paulo estava parado como sempre. Mas, quando o dalai-lama enfim entrou no auditório lotado, às 16h45, rindo muito e acenando para a plateia, as mãos postas na tradicional saudação budista, os engravatados convidados pelo Fórum de Líderes Empresariais sorriram junto.
O tema do dalai-lama em sua palestra para os empresários era a "Nova Consciência nos Negócios - Valores para um Mundo Sustentável". O monge evitou o ar de professor. À primeira pergunta feita pelo público -Como seria possível uma economia sustentável diante do consumismo desenfreado?-, respondeu, sério: "Não sei." Um instante de estupor pela sinceridade e veio a emenda: "Isso quem sabe são vocês. Não sou especialista nesses assuntos, sou um simples monge, que não teria nada a falar a líderes empresariais".
Mas o dalai-lama não perdeu a oportunidade de falar para homens de negócios que vivem cercados por seguranças sobre as virtudes do coração altruísta. "O egoísmo gera incompreensão e medo".
A organização do evento não permitiu a entrada de fotógrafos no auditório. Informava que era "questão de segurança" para os empresários lá reunidos. Nos demais encontros (com cientistas, religiosos e simpatizantes do budismo), o acesso dos fotógrafos está liberado.
O "Oceano de Sabedoria", tradução do título honorífico dalai-lama olhou no relógio quando começou a falar. E advertiu: "Preciso dormir". Não era uma brincadeira. Às 16h15, em situação normal, ele já estaria descansando.
O que se viu não foi um líder extenuado pela viagem conturbada, apesar de seus 76 anos de idade. Enérgico, Tenzin Gyatso defendeu a redução das distâncias que separam ricos e pobres: "O Brasil tem história de sucesso, os empresários com princípios morais devem estimular os demais a reduzir essa distância entre pobres e ricos".
Chegou a esboçar um elogio ao comunista chinês Mao Tsé-tung (que consolidou o domínio da China sobre o Tibete): "Mao era um comunista maravilhoso, encontrei-o várias vezes nos anos 50", disse, para logo emendar: "Mas foi estragado pelo poder, virou um imperador."
Hoje, o religioso falará a pesquisadores sobre os efeitos da meditação.
A palestra ocorrerá no mesmo complexo do World Trade Center. Não há mais ingressos disponíveis.



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