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GUERRA À VISTA
Em referendo com resultado previamente conhecido, ditador tenta demonstrar força diante da ameaça de guerra
Iraquianos votam em Saddam com sangue
NADIM LADKI
DA "REUTERS", EM BAGDÁ
Jurando defender o presidente
Saddam Hussein até a morte, os
eleitores iraquianos votaram ontem num referendo presidencial
cujo resultado já era declarado de
antemão como sendo a vitória esmagadora do "sim".
Alguns eleitores chegaram a
usar seu próprio sangue para
marcar a alternativa "sim" para
mais um mandato de sete anos
para o líder iraquiano. Não há números oficiais quanto à porcentagem de eleitores que foram votar.
O resultado será divulgado hoje.
Mas ele já é sabido, com um processo eleitoral rigidamente controlado pelo governo e a ausência
de observadores independentes
ou outros candidatos.
Em 1995, Saddam ganhou um
referendo com 99,96% dos votos.
Autoridades disseram que querem uma porcentagem ainda
maior desta vez -algumas esperam o resultado perfeito: 100%.
"Obviamente não é um dia muito sério, não é uma votação muito
séria, e ninguém dá credibilidade
a isso", disse Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca.
Desafio
O governo incentivou os eleitores a comparecer em massa para
manifestar seu apoio a Saddam,
diante das ameaças americanas
de ação militar e do desejo do presidente George W. Bush de removê-lo do poder.
"Com nosso sangue e nossas almas defendemos Saddam Hussein", gritavam partidários do
presidente em Bagdá. Dito e feito:
um deles furou seu polegar direito
com um alfinete e passou a escrever "sim" na cédula com seu sangue. "Escrevi não com a caneta,
mas com meu sangue", ele disse.
Cenas semelhantes se repetiram
em outros locais de voto.
"Este é o Iraque, e este é o povo
do Iraque", disse a jornalistas o
principal vice de Saddam Hussein, Izzat Ibrahim. "Como a
América vai combater este grande
povo? Quanto a América vai perder, e por que motivo?".
Quase 12 milhões de iraquianos
iriam responder com um simples
"sim" ou "não" à pergunta sobre
o novo mandato presidencial de
Saddam, que já governa o Iraque
há 23 anos por meio do controle
estreito dos militares e da polícia.
Não foram vistos sinais do presidente, mas seu filho mais velho,
Uday, compareceu para votar. Ele
chegou num Rolls Royce vermelho na zona eleitoral no centro de
Bagdá. Cercado por guarda-costas, saiu do carro, assinalou seu
voto na cédula e a entregou a um
menino. O menino foi escoltado
até dentro da estação por um
guarda-costas e pôs o papel na urna. Uday partiu sem pôr os pés
dentro do posto de votação.
Partidários de Saddam começaram a comemorar a vitória pouco
após a abertura das urnas, dançando na capital e levando ovelhas para serem abatidas, um ato
tradicional árabe de comemoração. Chá e refrescos foram distribuídos de graça por membros do
partido governista, Baath. Os tons
de discagem dos telefones em alguns bairros foram substituídos
por mensagens gravadas dizendo
"sim, sim, sim a Saddam".
As manifestações de entusiasmo por Saddam foram mais fortes em sua cidade natal, Tikrit (180
km de Bagdá). Com adesivos de
Saddam colados no peito, cerca
de 20 soldados juraram sacrificar-se para defender seu líder.
Crianças usando camisetas com
retratos de Saddam se reuniam
diante dos locais de voto, batendo
palmas e aplaudindo. "Saddam,
Saddam, nós o amamos", elas
cantavam. "Bush, Bush, onde você está dormindo? Debaixo dos
sapatos de Saddam."
Nomeado presidente em 1979,
Saddam liderou o Iraque em duas
guerras e já sobreviveu a diversos
desafios. Mas, com os EUA determinados a desarmar o país, é possível que ele enfrente seu teste
mais difícil nos próximos meses.
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