São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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Comandante brasileiro liga Kerry à violência

DA REDAÇÃO

Em declarações publicadas ontem, o comandante da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti), o general brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, 56, relaciona a recente onda de violência em Porto Príncipe a declarações do candidato democrata John Kerry em favor do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, que deixou o país em fevereiro após protestos e um levante armado.
"Há essa esperança, absolutamente infundada, mas que foi criada pela declaração de um candidato à Presidência da República nos Estados Unidos. E que foi tomada aqui ao pé da letra e criou expectativa de que uma situação de instabilidade no país e uma mudança na política americana pudesse contribuir para que o ex-presidente Aristide retornasse ao país", disse o general à Radiobrás, a agência de notícias do governo federal.
Em março, Kerry disse que, se fosse presidente, teria enviado uma força internacional para proteger Aristide. "Eu estaria preparado para enviar tropas imediatamente, ponto", declarou o senador democrata na época, lembrando que o ex-presidente foi eleito democraticamente.
Aristide tem acusado o governo do presidente George W. Bush de tê-lo levado seqüestrado do país. Washington nega a acusação.
A recente onda de violência na capital haitiana tem sido atribuída a partidários do ex-presidente Aristide, que exigem a sua volta e chama as tropas da Minustah de "invasoras".
O general Heleno, no entanto, negou a existência de um grande problema de violência em Porto Príncipe e culpa o clima da insegurança a uma "onda de boatos". Segundo ele, "em nenhum momento se perdeu o controle" da capital haitiana.
"Aqui existe uma síndrome de pânico que quaisquer dois tiros para o alto, imediatamente a imprensa coloca na rádio que a cidade está um caos. O ambiente é muito fértil para boatos, para que se espalhe a idéia de que a cidade está no caos. Com isso, há uma grande vantagem para os bandidos e uma desvantagem para as forças legais", disse o general Heleno à Radiobrás.
Sobre a atuação da missão militar brasileira, que é responsável pela região de Porto Príncipe, disse: "É impossível impedir totalmente que pequenas ações, que pequenos fatos aconteçam ao longo do dia e da noite. Esses fatos dificilmente deixarão de acontecer. A gente precisa contar um pouco mais com a contribuição do próprio governo desfazendo boatos, das agências internacionais, das embaixadas".


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