São Paulo, sábado, 16 de novembro de 2002

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EUA dificultam acordo sobre armas biológicas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Embora lidere a cruzada para garantir que o ditador iraquiano, Saddam Hussein, não terá armas de destruição em massa, Washington continua a impedir que a Convenção sobre Armas Biológicas (CAB), criada para evitar a proliferação desse tipo de armamento, possa realizar inspeções em qualquer lugar sem restrições.
Durante uma cúpula em Genebra, na Suíça, anteontem, os 146 países signatários da CAB (1972), incluindo o Brasil, decidiram aceitar um plano de cinco pontos que, na prática, nada mais faz do que assegurar a realização de uma nova reunião no próximo ano.
Em dezembro passado, quando a cúpula anterior sobre o tema foi realizada, os EUA impediram a aprovação de um plano mais audacioso, que previa que a CAB teria o direito de inspecionar locais em qualquer ponto do planeta, inclusive nos EUA. Segundo Washington, essas inspeções não poderiam ser realizadas em território americano porque poderiam representar uma ingerência em assuntos confidenciais.
"Em parte, os EUA têm razão porque alguns Estados que assinaram o documento, como o Iraque e a Coréia do Norte, provavelmente não respeitem a CAB. Na verdade, Pyongyang reconheceu que tem um programa de armas biológicas nesta semana", explicou à Folha Ted Galen Carpenter, editor de "Delusions of Grandeur: The United Nations and Global Intervention" (delírios de grandeza: a ONU e intervenção global).
"Por outro lado, como querem liderar uma coalizão para desarmar o Iraque, os EUA teriam a obrigação moral de permitir que os inspetores da ONU tivessem acesso a suas instalações de estudo ou de desenvolvimento de materiais biológicos passíveis de uso bélico", acrescentou Carpenter.
De fato, o argumento de Washington para esvaziar a reunião de dezembro de 2001 era que o Iraque, o Irã, a Coréia do Norte e a Líbia não respeitavam o tratado, mantendo seus programas de desenvolvimento de armas biológicas. O governo americano chegou até a declarar que não aceitaria mais negociações sobre a CAB até 2006, data da próxima grande conferência sobre a questão.
Contudo, anteontem, Stephen Rademaker, secretário-assistente de Estado para o Controle de Armas, afirmou que os EUA estavam contentes com o novo texto. "Trata-se de uma modo realista e construtivo de lidar com o tema."
"Nada foi resolvido em Genebra. A CAB continua sem poder impor sanções aos países que a violam. Ela não pode nem verificar se isso ocorre. Para tanto, é preciso um mandato especial, como o dos inspetores que vão ao Iraque", apontou Carpenter.
Assim, embora tenham razão em parte, os EUA deveriam adotar uma atitude mais multilateralista, contribuindo para que um órgão internacional fizesse um trabalho preventivo para evitar a proliferação de armas biológicas.


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