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EUA dificultam acordo sobre armas biológicas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Embora lidere a cruzada para
garantir que o ditador iraquiano,
Saddam Hussein, não terá armas
de destruição em massa, Washington continua a impedir que a
Convenção sobre Armas Biológicas (CAB), criada para evitar a
proliferação desse tipo de armamento, possa realizar inspeções
em qualquer lugar sem restrições.
Durante uma cúpula em Genebra, na Suíça, anteontem, os 146
países signatários da CAB (1972),
incluindo o Brasil, decidiram
aceitar um plano de cinco pontos
que, na prática, nada mais faz do
que assegurar a realização de uma
nova reunião no próximo ano.
Em dezembro passado, quando
a cúpula anterior sobre o tema foi
realizada, os EUA impediram a
aprovação de um plano mais audacioso, que previa que a CAB teria o direito de inspecionar locais
em qualquer ponto do planeta, inclusive nos EUA. Segundo Washington, essas inspeções não poderiam ser realizadas em território americano porque poderiam
representar uma ingerência em
assuntos confidenciais.
"Em parte, os EUA têm razão
porque alguns Estados que assinaram o documento, como o Iraque e a Coréia do Norte, provavelmente não respeitem a CAB. Na
verdade, Pyongyang reconheceu
que tem um programa de armas
biológicas nesta semana", explicou à Folha Ted Galen Carpenter,
editor de "Delusions of Grandeur:
The United Nations and Global
Intervention" (delírios de grandeza: a ONU e intervenção global).
"Por outro lado, como querem
liderar uma coalizão para desarmar o Iraque, os EUA teriam a
obrigação moral de permitir que
os inspetores da ONU tivessem
acesso a suas instalações de estudo ou de desenvolvimento de materiais biológicos passíveis de uso
bélico", acrescentou Carpenter.
De fato, o argumento de Washington para esvaziar a reunião
de dezembro de 2001 era que o
Iraque, o Irã, a Coréia do Norte e a
Líbia não respeitavam o tratado,
mantendo seus programas de desenvolvimento de armas biológicas. O governo americano chegou
até a declarar que não aceitaria
mais negociações sobre a CAB até
2006, data da próxima grande
conferência sobre a questão.
Contudo, anteontem, Stephen
Rademaker, secretário-assistente
de Estado para o Controle de Armas, afirmou que os EUA estavam contentes com o novo texto.
"Trata-se de uma modo realista e
construtivo de lidar com o tema."
"Nada foi resolvido em Genebra. A CAB continua sem poder
impor sanções aos países que a
violam. Ela não pode nem verificar se isso ocorre. Para tanto, é
preciso um mandato especial, como o dos inspetores que vão ao
Iraque", apontou Carpenter.
Assim, embora tenham razão
em parte, os EUA deveriam adotar uma atitude mais multilateralista, contribuindo para que um
órgão internacional fizesse um
trabalho preventivo para evitar a
proliferação de armas biológicas.
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