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MISSÃO NO CARIBE
Grupo de ativistas americanos diz à OEA que soldados brasileiros da ONU participaram de massacre
ONGs acusam Brasil de violações no Haiti
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
O Brasil foi denunciado ontem à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos)
sob a acusação de participação
ativa e omissão em supostas chacinas no Haiti. A denúncia é de
grupos de ativistas americanos. O
Brasil lidera os militares da Missão de Estabilização da ONU no
Haiti (Minustah), sob o comando
do general Urano Bacellar.
"Aqueles mortos pelas forças da
Polícia Nacional Haitiana e pela
Minustah incluem uma longa lista de homens, mulheres e crianças
desarmados. Nenhum esforço foi
feito para reduzir as mortes de civis e transeuntes. Em muitos casos, essas vítimas não são "dano
colateral" das operações, acidentalmente surpreendidas em fogo
cruzado, mas intencionalmente
visadas e mortas pela polícia e/ou
forças da Minustah", diz a petição
entregue à comissão.
O lingüista Noam Chomsky
também apóia as denúncias, de
acordo com os organizadores,
mas ele não assina a petição.
O grupo responsável pela denúncia disse ter obtido gravações
em vídeo e depoimentos de haitianos que comprovariam os incidentes. O material, porém, não foi
repassado à imprensa ontem.
Depois de analisar os dados, a
comissão deve solicitar uma resposta oficial do Brasil a respeito
das supostas violações de direitos
humanos, antes de decidir se inicia um processo contra o país.
"As informações e relatos vêm
de diferentes fontes, de diferentes
classes sociais, de diferentes bairros. É implausível que tenham organizado uma versão", disse Seth
Donelly, da ONG US Labor.
Um suposto massacre no dia 6
de julho de 2004 compõe a base da
denúncia. No episódio, a Minustah contabiliza cinco mortos. Já
moradores e médicos ouvidos na
denúncia encaminhada dizem
que 63 pessoas morreram e 14 desapareceram. A maioria dos mortos teria recebido tiros na cabeça.
Dias antes, em 29 de junho, uma
outra ação dos capacetes azuis teria resultado na morte de um haitiano em cadeira de rodas, William Merci, em Bel Air, com um
tiro na cabeça. Um vídeo do corpo e depoimentos indicariam a
participação de tropas brasileiras.
"Não importa quem esteja no
comando. Os brasileiros são adorados pela população haitiana por
conta do futebol. Quem lidera as
tropas vai aplicar a política da
ONU que é ditada pelos EUA. Está tudo errado desde o início",
afirmou Lionel Jean-Batiste, vereador em Illinois.
Na denúncia, o Brasil é considerado culpado pela ação direta de
seus soldados em mortes de civis
e também por omissão frente à
ação violenta da Polícia Nacional
Haitiana. De acordo com o relatório, integrariam a polícia grupos
de criminosos locais que agora se
vingam contra a população.
Contabilizam 14 as assinaturas
na petição. Entre os que endossam estão as ONGs Global Exchange, Irmandade de Reconciliação, Instituto para a Justiça e
Democracia no Haiti e US Labor,
a Associação Nacional de Advogados, o professor de geologia Joseph Nevins, do Vassar College e a
Conferência de Advogados Negros de Chicago.
A equipe responsável pela denúncia foi a Cité Soleil no dia seguinte às mortes de 6 de julho.
Os EUA também foram denunciados sob a acusação de "armar e
apoiar diplomaticamente" a polícia haitiana após a queda do então
presidente, Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004.
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