São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Militares são grupo favorito nos EUA

Forças Armadas despertam mais confiança pública que igreja, Congresso e Executivo, mostra pesquisa

Entre os pré-candidatos à Presidência, a democrata Hillary Clinton chegou em primeiro na confiança, mas também no nível de rejeição

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Apesar do fracasso no Iraque, as Forças Armadas dos Estados Unidos passaram com louvor em ao menos uma prova: a de popularidade. Os militares ficaram em primeiro lugar entre 12 instituições em uma pesquisa que mede o grau de confiança dos americanos em seus líderes. O estudo foi divulgado nesta semana pelo Centro de Liderança Pública da Universidade Harvard (EUA).
Em contraste, níveis de confiança em relação ao Poder Executivo e a congressistas obtiveram, respectivamente, o segundo e o terceiro piores resultados. "Essa diferença é muito importante. Temos feito a pesquisa há três anos e ela é persistente", afirmou à Folha Seth Rosenthal, principal autor do "Estudo Nacional de Confiança em Líderes", feito por telefone com 1.207 adultos.
Em uma escala até quatro, os militares chegaram a um total de 3,15 pontos. O Poder Executivo conseguiu 2,43 e os congressistas, 2,53. O pior índice de confiança coube à imprensa, com apenas 2,26 pontos.
A pesquisa não indica a razão das escolhas, mas Rosenthal disse ser plausível crer que o público não culpa os militares pelo fracasso no Iraque.
Para o historiador e analista político de Harvard Alexander Keyssar, a explicação é simples: em tempos de guerra, é "pouco patriótico" nos EUA falar mal do Exército. "As pessoas se sentem muito desconfortáveis em criticar os militares, como se isso de alguma forma fosse colocá-los em perigo."
Robert Shapiro, especialista em opinião pública e liderança política da Universidade Columbia (Nova York), concorda e afirma que os americanos colocam a culpa pela situação do Iraque no governo. "Questiona-se a competência do presidente, mas os comandantes estão isolados das críticas."
O fenômeno ficou claro em setembro, quando um anúncio publicado no jornal "The New York Times" contra o principal comandante militar dos EUA no Iraque recebeu duras críticas. O anúncio fez um trocadilho com o nome do militar -"General Petraeus or General Betray Us" ("betray", em inglês, é trair, e "us", nós)- quando ele depôs no Congresso.

Fiasco presidencial
Para o governo, não há boas notícias na pesquisa. Cerca de 77% dos participantes dizem crer que há uma crise de liderança nos EUA. Apenas 7% afirmam que os EUA irão piorar depois das eleições de 2008 -quando o presidente, George W. Bush, deixará o poder.
As respostas, obtidas entre os dias 4 e 17 de setembro, são coerentes com um levantamento da CBS que mediu em míseros 30% a taxa de aprovação a Bush em outubro.
Quanto à corrida presidencial, o levantamento trouxe dados curiosos. A senadora democrata Hillary Clinton é a pré-candidata com a maior taxa de "muita confiança" entre os entrevistados em geral: 33%. Mas ela é também a que obteve mais respostas denotando "nenhuma confiança", com 26%.
Para Rosenthal, "o importante é notar que os americanos já decidiram o que pensam em relação a Hillary". "Só 2% responderam que não sabem o quanto confiam nela", afirmou.
Outro personagem controvertido é o ator e senador Fred Thompson, que ficou famoso nos EUA pelo papel de promotor distrital no seriado de TV "Lei e Ordem", da NBC. Entre os participantes republicanos, ele obteve o maior número de declarações de "muita confiança" em suas capacidades: 27%. Mas foi seguido de perto pelo ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, com 26%. Se considerada a margem de erro, de 2,8 pontos para mais ou para menos, há empate técnico.
Ao mesmo tempo, Thompson obteve o pior índice se considerados apenas os entrevistados democratas, dos quais apenas 3% declararam ter "muita confiança" no senador.
Independentemente das preferências, Keyssar avalia que os números revelam um momento de profunda apreensão nos EUA, devido tanto à guerra no Iraque quanto a uma percepção de vulnerabilidade econômica. "Há mais ansiedade entre os americanos hoje do que em qualquer época de que eu possa me lembrar", afirma.


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