São Paulo, terça, 16 de dezembro de 1997.




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PÓS-APARTHEID
Reunião deve consagrar vice
CNA inicia sucessão de Mandela hoje

das agências internacionais

O Congresso Nacional Africano (CNA), o principal partido da África do Sul, dá início hoje a seu 50º congresso, que deve consagrar o nome de Thabo Mbeki, atual vice-presidente do país, como sucessor do presidente Nelson Mandela.
Apesar de a próxima eleição presidencial estar marcada para daqui a dois anos, em 1999, Mbeki já é apontado como o "presidente de fato", nas palavras do próprio Mandela, que se qualificou, no último domingo, como "um presidente de cerimônia".
Mandela, 79, que conduziu da prisão a luta contra o apartheid -regime de segregação racial-, abandona voluntariamente o poder no momento em que o CNA busca caminhos para superar o grande abismo social que ainda separa negros e brancos.
A mesma maioria negra que colocou no poder o partido e o atual presidente sul-africanos, em 1994, exige medidas concretas que transformem sua representação numérica em uma representação econômica. É esse o grande desafio de Thabo Mbeki.
O vice-presidente dá início à terceira geração de líderes do CNA. Fundado em 1912 por intelectuais como John Dube, o então Congresso Nacional Nativo Sul-Africano nasceu para unir as diferentes etnias na luta contra o domínio branco.
Nos anos 40, uma nova geração de líderes passa a pregar a luta armada como meio de pôr fim à supremacia dos "colonizadores". Integram esse grupo os então radicais Oliver Tambo, Walter Sisulu e Nelson Mandela.
Duas décadas mais tarde, o CNA, sob a liderança de Mandela, detido em 1963, começa a advogar a resistência passiva contra o apartheid, que seria definitivamente abolido nos anos 90. O próprio Mbeki é filho de um líder histórico da resistência negra sul-africana.
Winnie Mandela
Se para o principal cargo do partido a sucessão desenha-se natural, o mesmo não se pode dizer para o segundo posto mais importante do CNA.
Winnie Madikizela-Mandela, ex-mulher do atual presidente sul-africano e líder da Liga das Mulheres do CNA, concorre com o candidato da situação, Jacob Zuma, para o cargo.
A candidatura de Winnie, porém, deve causar mais barulho do que ameaçar a vitória de Zuma.
A ex-mulher do principal líder negro africano viu seu prestígio abalado pelas acusações de participação em assassinatos, sequestros e espancamentos ocorridos durante os anos do apartheid.
Winnie compareceu no início do mês frente à Comissão de Verdade e Reconciliação, que apura os abusos contra os direitos humanos durante o regime de segregação racial, para responder sobre as acusações.
Sua imagem junto à opinião pública sul-africana, apesar das afirmações de inocência e de que as acusações são um plano para manchar seu prestígio, saiu abalada.



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