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AMÉRICA DO SUL
Líder cocaleiro, que encabeça disputa presidencial na Bolívia, encerra campanha advertindo Petrobras
Morales "avisa" Brasil que reaverá refinarias
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
Em inflamado discurso diante
de milhares de simpatizantes, o líder socialista Evo Morales subiu o
tom de sua promessa de nacionalizar a exploração do gás e petróleo bolivianos ao exortar o Brasil a
"devolver" duas refinarias compradas há seis anos pela estatal
brasileira Petrobras.
"Meus companheiros, essas refinarias têm de voltar às mãos de
Santa Cruz, às mãos de Cochabamba, às mãos do povo boliviano. Vamos recuperar as refinarias, que saibam o Estado brasileiro e o companheiro Lula: se ganharmos as eleições, terão de nos
devolver as refinarias que nos
pertencem", disse e foi saldado
com palmas.
Antes, o ex-líder cocaleiro afirmou que a nacionalização dos hidrocarbonetos será "a segunda
independência para o país".
Não é primeira vez que Morales
defende a reestatização das duas
refinarias, mas o tom nunca foi
tão agressivo. As duas plantas,
compradas em 1999 por pouco
mais de US$ 100 milhões, praticamente controlam o comércio de
derivados de petróleo na Bolívia.
Em entrevista à Folha ontem de
manhã, Morales disse que pedira
ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a devolução das refinarias
durante o encontro entre os dois
no dia 18 de novembro, no Palácio
do Planalto.
"Expliquei a Lula que vamos
exercer o direito de propriedade
dos recursos naturais, dos hidrocarbonetos, e pedi, evidentemente, as duas refinarias, de Santa
Cruz e de Cochabamba. Se é necessário pagar, isso será feito após
um estudo. Mas é necessário recuperar as refinarias", afirmou.
A exploração e a comercialização do gás e do petróleo é um dos
principais temas de campanha na
Bolívia e parcialmente responsável pelos protestos que levaram à
renúncia de dois presidentes desde 2003. A principal empresa desse setor é a Petrobras Bolívia, que,
sozinha, gera em torno de 15% do
PIB do país, o mais pobre da
América do Sul.
O showmício em Santa Cruz de
la Sierra foi o penúltimo compromisso de campanha de Morales.
O candidato do MAS (Movimento ao Socialismo) lidera todas as
pesquisas, com cerca de cinco a
oito pontos percentuais de vantagem sobre o seu principal adversário, o ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga, de direita.
Morales, porém, tem poucas
chances de conseguir a maioria
simples dos votos válidos. Nesse
cenário, a Constituição boliviana
prevê que o Congresso escolha o
próximo presidente entre os dois
mais votados. As pesquisas mostram que, nas eleições legislativas,
os aliados de Quiroga levam vantagem sobre o MAS.
Críticas à imprensa
O evento de anteontem reuniu
vários milhares de pessoas
-quase todas de origem indígena- diante de uma estátua de
um índio guerreiro chiriguano,
apesar de as pesquisas mostrarem
que Morales perde para Tuto Quiroga no departamento de Santa
Cruz e da concorrência com a
transmissão da final do campeonato boliviano de futebol.
Os organizadores, num nítido
exagero, estimaram o comparecimento em 120 mil pessoas. Por
outro lado, o principal jornal de
Santa Cruz, "El Deber", praticamente ignorou Evo Morales na
edição de ontem e disse que o
evento havia atraído apenas 5.000
simpatizantes, sem informar a
fonte.
A cobertura dos meios de comunicação, aliás, foi criticada por
Morales logo no início do discurso: "Espero que a imprensa nacional e internacional diga a verdade
sobre a situação política e econômica de nosso país, e não faça como alguns meios de comunicação
que permanentemente satanizam
o nosso movimento".
Leia a íntegra da entrevista com Evo Morales em www.folha.com.br/053491
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