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IRAQUE SOB TUTELA
Estimativa é que comparecimento tenha ficado em torno de 70%; eleição transcorre sem incidentes graves
Sunitas aderem e iraquianos votam em peso
DA REDAÇÃO
A segurança reforçada e os sucessivos apelos de líderes sunitas
surtiram efeito nas eleições parlamentares de ontem no Iraque: a
minoria compareceu em peso para votar, e nenhum incidente mais
grave foi registrado. Com isso, o
índice de participação ficou em
torno dos 70%, bem acima de votações anteriores.
Por conta do boicote que promoveram na eleição para uma assembléia interina, em janeiro último, os sunitas -que já são a fatia
menor da população iraquiana-
acabaram sub-representados no
Parlamento. Como resultado, tiveram de se submeter às decisões
tomadas pela maioria xiita e por
seus aliados curdos, além de ficarem quase sem influência sobre a
redação da nova Constituição do
país, aprovada em outubro.
Tal cenário agravou tensões sectárias latentes antes da queda de
Saddam Hussein (1979-2003) e
em ebulição desde a invasão dos
EUA, em março de 2003. Os sunitas, que compõem menos de 20%
da população, eram privilegiados
pelo ex-ditador (ele mesmo um
sunita), enquanto curdos (15%) e
xiitas (60%) eram perseguidos e
reprimidos. De repente, viram-se
quase sem poder.
Ontem a história mudou. Mesmo na conturbada Fallujah -um
bastião da insurgência sunita e,
segundo Bagdá e Washington, esconderijo de terroristas- o índice de comparecimento chegou a
70%, pela estimativa de autoridades locais. Tamanha participação
surpreendeu: em alguns postos,
as cédulas acabaram. Faltaram
urnas, e foi preciso dobrar o limite
de votos que cada uma delas podia receber.
Na Governadoria (Província)
de Anbar, onde fica Fallujah e onde os sunitas são ampla maioria,
40 dos 207 centros de votação não
abriram. A Província, no oeste do
Iraque, é uma das mais violentas
do país, e as autoridades preferiram concentrar as forças de segurança nas áreas mais populosas
da região, deixando fechados centros em locais mais ermos.
Em Saladin, Província onde fica
a cidade em que Saddam cresceu,
Tikrit, a participação foi de 80%.
Saída americana
"Os árabes sunitas cometeram
um grande erro em boicotar a última eleição. Ficamos de fora da
redação da Constituição", disse
Talal Ali, um sunita de 25 anos
que votava em Kirkuk.
Mas não foi apenas o saldo negativo obtido com o boicote de janeiro que motivou os sunitas a
votarem. Tanto o governo iraquiano como o americano classificam a eleição de ontem como o
passo mais importante desde a invasão dos EUA para que os iraquianos assumam plenamente o
controle de seu país.
A soberania foi oficialmente
reentregue ao Iraque pelos EUA
em junho de 2004, mas 157 mil
soldados americanos permanecem no país (quase 20 mil deles
trazidos com reforço especialmente para o período eleitoral)
para manter a segurança. Além
disso, o atual governo interino,
encabeçado pelo premiê xiita
Ibrahim al Jaafari, tomou posse
sob os auspícios de Washington,
com o qual mantém laços estritos.
Com uma Assembléia Nacional
eleita para um mandato completo
de quatro anos e com os sunitas
reintegrados ao processo político,
a expectativa é que diminua a violência. Estimativas independentes
dão conta de 30 mil civis mortos
desde o início da guerra.
Com a melhora da segurança e o
paulatino treinamento das forças
iraquianas, os EUA afirmam que
poderão começar a deixar o país.
Em um cenário positivo, o Pentágono deve iniciar o corte de contingente já neste mês, e, até o fim
de 2006, estuda reduzir as tropas
para menos de 100 mil homens
-uma resposta não só aos iraquianos, mas também às críticas
que o governo de George W. Bush
sofre em seu próprio país.
"Marco democrático"
O dia de ontem transcorreu sem
incidentes graves, cenário raro no
Iraque atual. Para tanto o país fechou suas fronteiras uma semana
antes, proibiu por três dias o tráfego de automóveis a fim de evitar
ataques com carros-bomba e impôs um toque de recolher nas regiões mais conturbadas.
A segurança nos mais de 6.000
locais de votação foi reforçada
com mais de 200 mil soldados e
policiais iraquianos, e forças americanas funcionaram como apoio.
O pior incidente registrado foi a
morte de um guarda em Mossul
em um ataque com morteiro.
A votação foi celebrada pela Casa Branca, pela ONU e pelo governo interino. "No final das contas,
foi um belo dia. Um dia histórico", disse o enviado das Nações
Unidas ao Iraque, Ashraf Qazi.
"Quero cumprimentar os cidadãos iraquianos pela coragem,
por derrotarem os terroristas e
não se deixarem intimidar para
não votar. Creio que os iraquianos preocupam-se tanto com a liberdade quanto os americanos",
disse Bush, referindo-se ao dia de
ontem como "um grande marco
da marcha democrática".
"A população iraquiana está
mostrando ao mundo que todos
os povos, seja qual for sua formação, têm condições de escolher
seus próprios líderes e de viver em
liberdade", declarara antes Scott
McClellan, seu porta-voz.
Segundo analistas e pesquisas
informais feitas por agências de
notícias, a votação deve consolidar a força de dois grupos xiitas.
Um, laico, é liderado pelo ex-premiê Iyad Allawi, o favorito dos
EUA para governar. O outro, liderado pelo clérigo Abdul-Aziz al
Hakim, quer um Estado islâmico.
O Conselho Eleitoral do Iraque
prevê que os resultados sejam divulgados em duas semanas.
Com agências internacionais
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