São Paulo, quarta, 16 de dezembro de 1998

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ARQUEOLOGIA
Alemães afirmam que inscrições recém-descobertas por eles podem ser mais antigas que as da Mesopotâmia
Egípcios criaram a escrita, diz pesquisa

PAULO DANIEL FARAH
da Redação

Arqueólogos alemães anunciaram ontem a descoberta de hieroglifos no Egito que podem mostrar que a escrita surgiu no país.
A teoria mais aceita atualmente é que a origem da escrita ocorreu entre os sumérios, em aproximadamente 3300 a.C., no vale entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia -região espalhada atualmente por Síria, Iraque e Turquia.
O aparecimento da escrita no Egito teria acontecido três séculos mais tarde, segundo especialistas.
"Acreditava-se que os sumérios tinham sido anteriores aos egípcios na escrita", afirmou Gunter Dreyer, diretor do Instituto Alemão de Arqueologia do Egito. "Percebemos que eles estão no mesmo nível, e esta é uma pergunta em aberto: a escrita foi inventada aqui (no Egito) ou na Suméria?"
Uma expedição arqueológica do instituto descobriu as inscrições em cerca de 300 potes de um cemitério egípcio denominado Mãe dos Potes, em Abidos, 400 km ao sul do Cairo (capital do Egito).
A maioria das descobertas foi feita no túmulo do rei Escorpião 1º -no Egito antigo, era comum designar reis por nomes de animais. Para Dreyer, "é possível que os sumérios, que mantiveram relações comerciais com o Egito, tenham copiado as inscrições, mas é preciso aguardar mais evidências".
Os arqueólogos encontraram alguns objetos com inscrições que datam de 3400 a.C. Mas "a maior parte é de 3200 a.C.", disse Dreyer.
Na Mesopotâmia, os tabletes cuneiformes eram registrados em argila. No contexto egípcio, há o aproveitamento de madeira, bronze, cerâmica e pedras. O papiro também foi muito utilizado no Egito, no mundo fenício (no Líbano e no norte da África, especialmente) e na Grécia.
Os tabletes de argila sumérios contêm em geral registros de transações comerciais, casamentos e de contabilidade. Os mais antigos estão ligados ao registro de dados de subsistência e de troca.
Já as inscrições (egípcias) apresentadas pelos pesquisadores alemães eram de animais, plantas e montanhas. Segundo eles, a escrita egípcia é mais fácil de ser compreendida que a suméria. Cerca de dois terços das inscrições achadas já foram decifrados.
As escavações devem continuar e, segundo os cientistas, provavelmente serão necessários mais dez anos para conclusões definitivas sobre o assunto.
Segundo Bruno Fregni Bassetto, 63, professor de filologia românica da USP (Universidade de São Paulo), os sumérios certamente tiveram contato com os egípcios.
"Do Egito temos uma documentação bastante farta. Os sumérios andaram pelo Egito, pelo Oriente Médio, pela península Arábica."
Bassetto diz que "o que sabemos são hipóteses por meio de deduções. Os egípcios faziam representação não do som, mas do conceito. E representavam por meio da escrita sagrada (hieroglifo). Já os fenícios foram os primeiros a escrever representando os sons".
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Com agências internacionais


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