São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2000


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"PRESO NA REDE"
Pesquisa de universidade dos EUA mostra que internautas preferem a rede a interação social
Internet causa isolamento, diz estudo

JOHN MARKOFF
do "The New York Times"

A obsessão pela Internet está fazendo com que muitos norte-americanos passem menos tempo com seus amigos e familiares ou em lojas fazendo compras e mais tempo trabalhando em casa, segundo um dos primeiros grandes estudos sobre o impacto da Internet na sociedade.
"Quanto mais tempo as pessoas usam a Internet, menos elas convivem com seres humanos "de verdade'", disse Norman Nie, cientista político da Universidade de Stanford (oeste dos EUA) e principal coordenador do estudo.
Nie afirmou que a Internet está criando uma onda de isolamento social nos EUA, aumentando o risco de um mundo sem contato com humanos ou emoções.
Essa afirmação certamente causará controvérsia, pois alguns entusiastas da Internet sustentam que ela propiciou o aparecimento de relações eletrônicas alternativas que podem substituir, ou mesmo aumentar, contatos familiares e sociais.
"Não se trata de um jogo de soma zero", indicou Howard Rheingold, autor de "A Comunidade Virtual". "As relações sociais não se baseiam apenas em contatos físicos. Na verdade, elas têm aumentado graças à mídia artificial desde a invenção da mídia impressa e do telefone."
A pesquisa da Stanford aparece para oferecer paralelos da era da Internet para algumas descobertas de "A Multidão Solitária", um marco sobre a análise sociológica da sociedade dos EUA na década de 50.
O livro, de David Riesman, descrevia mudanças no caráter norte-americano e fazia uma análise sobre a diminuição da importância da vida familiar e comunitária e a ascensão dos meios de comunicação de massas.
Já o estudo atual explica como a Internet está levando à queda da influência dos meios de comunicação de massas. Ele mostra que 60% dos usuários regulares da Internet (mais de cinco horas semanais) disseram ter reduzido o tempo passado diante do televisor e que 33% deles disseram passar menos tempo lendo jornais.
O estudo também analisa como a Internet está permitindo que o trabalho invada os lares: 25% dos entrevistados afirmaram que a rede fez com que o tempo que eles passam trabalhando em casa aumentasse, sem reduzir sua jornada de trabalho normal.
Nie afirmou não haver nenhuma prova de que as comunidades virtuais sejam capazes de substituir as relações humanas tradicionais. "Se vou para casa às 18h30, passo a noite toda mandando e-mails e acordo para trabalhar no dia seguinte, dificilmente terei tempo de falar com minha mulher, meus filhos e amigos", disse.
O estudo entrevistou 4.113 adultos em 2.689 lares. Entre os usuários regulares, 8% disseram frequentar menos eventos sociais, 13% reconheceram passar menos tempo com os amigos e familiares e 26% informaram utilizar menos o telefone para se comunicar com eles. "Seremos milhões de pessoas praticamente sem interação social. A Internet é um meio com grande potencial para aumentar as liberdades, mas, se continuar sendo usada assim, acabaremos isolados", argumentou Nie.
Trata-se do segundo grande projeto de pesquisa que indica que o advento da Internet pode trazer consequências sociais negativas. Em 1998, pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon (leste dos EUA) afirmaram que pessoas que passam pelo menos algumas horas por semana conectadas à Internet tendem a apresentar mais propensão a crises de depressão e de solidão.


Tradução de Márcio Senne de Moraes


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