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"PRESO NA REDE"
Pesquisa de universidade dos EUA mostra que internautas preferem a rede a interação social
Internet causa isolamento, diz estudo
JOHN MARKOFF
do "The New York Times"
A obsessão pela Internet está fazendo com que muitos norte-americanos passem menos tempo com seus amigos e familiares
ou em lojas fazendo compras e
mais tempo trabalhando em casa,
segundo um dos primeiros grandes estudos sobre o impacto da
Internet na sociedade.
"Quanto mais tempo as pessoas
usam a Internet, menos elas convivem com seres humanos "de
verdade'", disse Norman Nie,
cientista político da Universidade
de Stanford (oeste dos EUA) e
principal coordenador do estudo.
Nie afirmou que a Internet está
criando uma onda de isolamento
social nos EUA, aumentando o
risco de um mundo sem contato
com humanos ou emoções.
Essa afirmação certamente causará controvérsia, pois alguns entusiastas da Internet sustentam
que ela propiciou o aparecimento
de relações eletrônicas alternativas que podem substituir, ou
mesmo aumentar, contatos familiares e sociais.
"Não se trata de um jogo de soma zero", indicou Howard
Rheingold, autor de "A Comunidade Virtual". "As relações sociais não se baseiam apenas em
contatos físicos. Na verdade, elas
têm aumentado graças à mídia
artificial desde a invenção da mídia impressa e do telefone."
A pesquisa da Stanford aparece
para oferecer paralelos da era da
Internet para algumas descobertas de "A Multidão Solitária", um
marco sobre a análise sociológica
da sociedade dos EUA na década
de 50.
O livro, de David Riesman, descrevia mudanças no caráter norte-americano e fazia uma análise
sobre a diminuição da importância da vida familiar e comunitária
e a ascensão dos meios de comunicação de massas.
Já o estudo atual explica como a
Internet está levando à queda da
influência dos meios de comunicação de massas. Ele mostra que
60% dos usuários regulares da Internet (mais de cinco horas semanais) disseram ter reduzido o
tempo passado diante do televisor e que 33% deles disseram passar menos tempo lendo jornais.
O estudo também analisa como
a Internet está permitindo que o
trabalho invada os lares: 25% dos
entrevistados afirmaram que a rede fez com que o tempo que eles
passam trabalhando em casa aumentasse, sem reduzir sua jornada de trabalho normal.
Nie afirmou não haver nenhuma prova de que as comunidades
virtuais sejam capazes de substituir as relações humanas tradicionais. "Se vou para casa às 18h30,
passo a noite toda mandando e-mails e acordo para trabalhar no
dia seguinte, dificilmente terei
tempo de falar com minha mulher, meus filhos e amigos", disse.
O estudo entrevistou 4.113 adultos em 2.689 lares. Entre os usuários regulares, 8% disseram frequentar menos eventos sociais,
13% reconheceram passar menos
tempo com os amigos e familiares
e 26% informaram utilizar menos
o telefone para se comunicar com
eles. "Seremos milhões de pessoas
praticamente sem interação social. A Internet é um meio com
grande potencial para aumentar
as liberdades, mas, se continuar
sendo usada assim, acabaremos
isolados", argumentou Nie.
Trata-se do segundo grande
projeto de pesquisa que indica
que o advento da Internet pode
trazer consequências sociais negativas. Em 1998, pesquisadores
da Universidade Carnegie Mellon
(leste dos EUA) afirmaram que
pessoas que passam pelo menos
algumas horas por semana conectadas à Internet tendem a apresentar mais propensão a crises de
depressão e de solidão.
Tradução de Márcio Senne de Moraes
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