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Trégua de milícia sustenta calma no Iraque
Cessar-fogo ordenado por líder do Exército de Mehdi há seis meses contribuiu para queda de 50% em mortes por atentados no país
EUA admitem que melhora "real, embora frágil" se deve em parte à ordem de Sadr, cujos aliados rejeitam diálogo com americanos
PATRICE CLAUDE
DO "MONDE"
Moqtada al Sadr, o irredutível clérigo radical xiita, não
gosta que o desobedeçam. No
último dia 7, um de seus porta-vozes lembrou àqueles entre
seus 60 mil milicianos que ainda ousam desafiar suas ordens:
"Sayyed Moqtada e seu conselho declaram que todo ativista
culpado de atos violentos, desafiando o cessar-fogo, será excluído do Exército de Mehdi".
Nos últimos meses, a "excomunhão" significou a morte
para centenas de milicianos.
Centenas de outros que teriam
cometido atos criminosos sob o
disfarce de pertenceram ao
Exército do Mehdi foram detidos pelas forças americanas.
Foi em agosto de 2007, após
confrontos sangrentos na cidade santa xiita de Kerbala entre
sua milícia e a de seu grande rival xiita, Abdel Aziz al Hakim,
que o "sayyed" -título dado pelos xiitas aos descendentes do
profeta Mohammed- decretou "a suspensão imediata e durante seis meses de todas as atividades militares" do Exército
de Mehdi.
A ordem do "guia" foi obedecida, em grande medida. Uma
visita a seu reduto, o bairro de
Bagdá conhecido como Sadr
City, permite constatar que os
milhares de ativistas vestidos
de preto que controlavam tudo
seis meses atrás desapareceram da paisagem. "Eles ainda
estão por aqui", comentou o jovem comerciante Jafar, "mas
estão adotando perfil discreto".
Os americanos reconhecem:
o "cessar-fogo contribuiu significativamente" para a diminuição em mais de 50% do número
de vítimas diárias no Iraque
desde meados de 2007, congelando a limpeza étnica que era
feita em Bagdá.
Hoje os assassinatos, os seqüestros e os atentados seguem
na capital e fora dela, mas em
ritmo menor. Nem a maioria
xiita, nem a minoria sunita cederam de suas posições antes
conquistadas ou perdidas.
A maioria dos bairros, agora
homogêneos, foi encerrada
atrás de altos muros, e quase
não há contato entre eles. Mas,
com a suspensão das atividades
da milícia, o afluxo de soldados
americanos nas ruas e a criação
dos chamados "comitês populares", milícias sunitas ditas de
"cidadãos vigilantes" pagos e às
vezes armados pelos EUA, uma
aparência de calmaria surgiu,
"real, mesmo que frágil e reversível", de acordo com a embaixada americana.
Se, dentro desse contexto
tenso, Moqtada al Sadr decidir
pôr fim a seu cessar-fogo, "tudo
vai recomeçar", comenta um
ministro do governo que diz
"não querer jogar óleo sobre o
fogo que continua a arder".
Sucessão
Enquanto as diferentes facções políticas seguem tão divididas e hostis quanto antes -o
Orçamento de 2008 não foi votado na Assembléia Nacional, e
a nova lei da "desbaatização" só
o foi porque está formulada de
forma vaga-, todos aguardam
para ver o que virá a seguir.
O que fará o jovem (34 anos
em julho) herdeiro da grande
dinastia religiosa dos Sadr?
Em seus gabinetes da Assembléia, dois deputados sadristas
moderados, Kussai al Suhail,
presidente da comissão parlamentar dos recursos naturais, e
Nasser al Rubaie, chefe de seu
grupo parlamentar (32 entre o
total de 275 parlamentares),
acham que Sadr vai prolongar o
cessar-fogo, embora isso não
seja consenso entre os fiéis.
De Najaf, onde o jovem líder
estaria mergulhado em estudos
para se tornar-se aiatolá (o que
lhe daria o direito de interpretar o Corão), o xeque Abdul Hadi al Karbalaie, em sermão em
nome do líder, denunciou "as
inúmeras prisões que se multiplicam há seis meses, tendo como alvos os nossos". Teria sido
um aviso?
As forças iraquianas e americanas não negam a ampliação
das ações contra membros do
Exército de Mehdi, mas dão a
entender que estas ocorrem
com o consentimento discreto
de seus chefes, que, dizem,
"querem limpar o grupo de criminosos sem lei nem religião".
O general Petraeus, no comando das tropas americanas,
afirma que mantém contato
com "quadros" do Exército de
Mehdi. David Satterfield, responsável pelo Iraque no Departamento de Estado, diz que
Sadr "quer abrir um diálogo".
Suhail não crê nisso. "Falar
diretamente com o ocupante é
uma linha vermelha intransponível", diz o deputado.
Tradução de CLARA ALLAIN
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