São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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Oposição venezuelana realça recorde de votação em 10 anos

Para os adversários de Chávez, desafio na eleição de 2012 é forjar programa que vá além da polarização com presidente

Apesar de críticas a uso da máquina, presidenciável opositor reconhece que o governo "conseguiu organizar uma maioria"

DE CARACAS

Após reconhecer a vitória do governo no referendo de domingo, porta-vozes da oposição venezuelana defenderam ontem uma reformulação de sua estratégia política para tentar vencer a reeleição presidencial de 2012. Eles também "celebraram" a mais alta votação obtida desde o início da era Hugo Chávez, há dez anos.
"A oposição ainda não se transformou numa verdadeira alternativa. É essa a tarefa que temos a partir de agora. E, para construir uma nova maioria, temos de fazer uma proposta que supere a polarização, que fale ao venezuelano sobre os temas que nos unem, e não apenas dos aspectos que nos dividem", disse à Folha o ex-prefeito de Chacao (município de Caracas) Leopoldo López, 37, um dos principais "presidenciáveis" da oposição.
No ano passado, López foi impedido de se candidatar ao governo distrital de Caracas, onde as pesquisas lhe davam 70% das intenções de voto. A Controladoria-Geral da República, controlada pelo chavismo, o declarou inelegível por suposto envolvimento num caso de corrupção. Até agora, ele não foi julgado pelo caso.
Em avaliação semelhante, o sociólogo Edgardo Lander acredita que a oposição tenha de se esforçar para ter uma plataforma comum, e não apenas se unir para enfrentar Chávez.
"É mais fácil colocar-se de acordo para se opor a uma emenda constitucional do que ter uma candidatura única. Isso quer dizer que, para 2012, o governo sai com vantagem porque já tem um candidato bem forte, enquanto a oposição tem de buscar um candidato único que não é óbvio", afirmou o professor da Universidade Central da Venezuela.

Recorde
Apesar da derrota, vários porta-vozes da oposição, como o governador de Caracas, Antonio Ledezma, ressaltaram a votação recorde obtida no domingo, 5,2 milhões de votos. Antes, o máximo havia sido 4,5 milhões de eleitores, no referendo de dezembro de 2007.
"É um resultado esplêndido porque está quase oito pontos percentuais acima da média que a oposição obtida até quase dois anos atrás", disse o diretor do jornal "Tal Cual" e ex-candidato presidencial Teodoro Petkoff, para quem a derrota de Chávez nas eleições presidenciais de 2012 será "inevitável".
Apesar de criticar duramente o uso da máquina do Estado, nenhum porta-voz da oposição desconheceu os resultados, sinal de que o debate entre participar ou não de eleições já foi superado.
Em 2005, o oficialismo elegeu todos os deputados da Assembleia Nacional depois que os partidos oposicionistas retiraram suas candidaturas. A próxima eleição para o Legislativo ocorrerá em 2010.
"É preciso reconhecer que, independentemente do abuso, da manipulação de poder, do uso indiscriminado dos recursos financeiros, midiáticos e judiciais, o governo conseguiu organizar e levar a votar uma maioria de eleitores", afirmou López, em entrevista concedida na praça Altamira, principal reduto da oposição em Caracas. (FABIANO MAISONNAVE)


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