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São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Após cúpula de Açores, líderes dão mais um dia para a ONU aprovar resolução que abre caminho para a guerra

Bush diz que hoje é o "dia da verdade"

France Presse
Os líderes pró-guerra Blair (esq.), Bush e Aznar, após declaração conjunta na cúpula de Açores


DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush e seus aliados numa provável guerra contra o Iraque deram um ultimato à ONU ontem. Se o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas não aprovar hoje uma nova resolução autorizando o uso da força militar contra o ditador iraquiano, Saddam Hussein, os EUA deverão deflagrar o ataque mesmo sem o aval da organização.
"Nós concluímos que amanhã [hoje" é o momento da verdade para o mundo", disse Bush após reunião de cúpula de emergência com os primeiros-ministros Tony Blair (Reino Unido), José María Aznar (Espanha) e o anfitrião José Durão Barroso (Portugal), no arquipélago dos Açores.
Líderes dos países contrários à guerra no CS da ONU, como Jacques Chirac (França), Vladimir Putin (Rússia) e Gerhard Schröder (Alemanha), não comentaram imediatamente as declarações feitas nos Açores.
Depois que os últimos esforços diplomáticos forem dados como encerrados, Bush deverá fazer um discurso à população norte-americana -possivelmente hoje à noite- no qual anunciará sua decisão de ir à guerra.
EUA, Reino Unido e Espanha (os dois primeiros membros permanentes e o terceiro membro provisório do CS) são os principais defensores de uma ação militar imediata. Há cerca de 250 mil soldados dos EUA e do Reino Unido na região do golfo Pérsico esperando uma ordem para iniciar a invasão.
Blair e Aznar disseram que farão novos contatos diplomáticos para convencer países indecisos do CS a aprovar uma resolução que abra caminho para a guerra. Segundo Blair, os líderes deveriam decidir-se ao longo da noite se a apoiariam ou não.
Embora prefiram agir amparados por uma nova resolução, EUA e Reino Unido poderão desistir de votá-la se chegarem à conclusão hoje que não têm maioria no CS. Para Aznar, "uma nova resolução seria politicamente desejável... mas, do ponto de vista legal, não é imprescindível". Os EUA e seus aliados julgam que a resolução 1441, aprovada por unanimidade em novembro, já dá base jurídica para o ataque.
Os líderes pró-guerra não aceitam a proposta de dar um prazo de 30 a 60 dias para a conclusão das inspeções, defendida pelo presidente da França, Jacques Chirac em entrevista a TVs americanas ontem (leia mais na pág. A8). "Sem um ultimato crível e que autorize o uso da força na hipótese de não-cumprimento, mais discussões só significarão mais atrasos", disse Blair.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, alertou inspetores da ONU, jornalistas e outros para deixar Bagdá imediatamente, dizendo que, além do risco de ser apanhados em meio à ação militar, eles enfrentavam a ameaça de ser feitos reféns por Saddam.
"É evidente que nós estamos perto do fim dos esforços diplomáticos", disse Dick Cheney, o vice-presidente dos EUA. "O presidente [Bush" terá de tomar uma decisão muito difícil e importante nos próximos dias", afirmou Cheney um pouco antes da cúpula.
Bush voou dos EUA para os Açores, no meio do Atlântico, para encontrar-se com seus mais fiéis aliados com assento no Conselho de Segurança. A ilha foi escolhida por sua localização estratégica: fica no meio do caminho entre os EUA e a Europa, possui base militar americana, pertence a um país (Portugal) que apóia a posição norte-americana e é suficientemente remota para facilitar o trabalho da segurança.
Apesar disso, cerca de 300 pessoas protestaram contra a guerra do lado de fora da base aérea de Lajes, onde ocorreu o encontro. Ontem, ocorreram vigílias pela paz em todo o planeta.


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