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IRAQUE SOB TUTELA
Os dois países, sem relações diplomáticas há 27 anos, excluem do diálogo o programa nuclear iraniano
Caos no Iraque leva EUA e Irã a negociarem
DA REDAÇÃO
Numa iniciativa em muitos sentidos surpreendente, o Irã propôs
ontem abrir discussões com os
Estados Unidos sobre a normalização da situação no Iraque.
Washington aceitou o diálogo,
disse que não será abordado o
programa nuclear iraniano -já
na pauta do Conselho de Segurança da ONU- e indicou para a
tarefa Zalmay Khalilzad, embaixador americano em Bagdá.
A iniciativa de abrir um canal
diplomático entre dois países que
há 27 anos não têm relações bilaterais foi anunciada ontem, em
Teerã, por Ali Larijani, secretário
do Conselho Supremo de Segurança Nacional de seu país e também principal negociador iraniano na AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Larijani disse que seu governo
se predispunha a discutir exclusivamente o Iraque, maneira de não
aceitar que, numa barganha, a
questão nuclear iraquiana pudesse ser incluída. Segundo Larijani,
o primeiro passo foi dado pelo
embaixador americano no Iraque, que "reiteradamente" propôs a seu governo um diálogo sobre a situação daquele país.
O porta-voz da Casa Branca deixou claro que se trata de "uma tarefa muito bem definida, que diz
respeito apenas a problemas relativos ao Iraque".
Apesar da guerra entre os dois
vizinhos (1980-88), que deixou 1
milhão de mortos, o Irã, república
muçulmana xiita com população
majoritariamente persa, tem afinidades com os xiitas iraquianos,
de etnia árabe. Eles possuem no
país maior peso demográfico e
hegemonia no Parlamento.
Washington teme que, ao se democratizar, o Iraque adote o modelo iraniano de república islâmica. A realização de contatos bilaterais entre o Irã e os EUA havia
sido sugerida nesta semana, em
Bagdá, pelo dirigente xiita iraquiano Abdulaziz al Hakim, em
razão do impasse nas negociações
entre as facções internas (árabes
sunitas, árabes xiitas e curdos) para formar o novo governo. Al Hakim tem ligações com o Irã.
No início de março o ex-presidente do Parlamento do Irã Mehdi Karroubi disse ao "Los Angeles
Times" que a supressão do diálogo com os EUA, decidida pelo primeiro líder da teocracia iraniana,
o aiatolá Ruhollah Khomeini,
"não deverá durar para sempre".
Larijani disse que nas próximas
horas indicaria o dirigente que se
reunirá com o embaixador americano.
Nos últimos dias o secretário
americano da Defesa, Donald
Rumsfeld, acusou milícias iranianas de atuarem no Iraque ao lado
de forças insurgentes. O presidente George W. Bush disse dias depois que o Irã enviava explosivos
ao Iraque para matar soldados
americanos nas estradas.
O Irã negou as duas acusações e
respondeu que as forças de ocupação americanas eram as únicas
responsáveis pela situação.
Os EUA, que durante a Guerra
Fria apoiavam a dinastia que governou o Irã até 1979, rompeu relações depois que 52 americanos
foram mantidos por 444 dias como reféns no prédio de sua embaixada na capital iraniana.
O clima bilateral melhorou a
partir de 1997, quando o então
presidente Mohammad Khatami
procurou quebrar o gelo por meio
do envio aos EUA de atletas para
competições esportivas. Mas seguiu-se uma deterioração quando, já eleito, Bush enquadrou o Irã
no "eixo do mal" e o novo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, passou a fazer declarações anti-semitas.
O grande litígio bilateral é, no
entanto, o programa nuclear iraniano, que Washington, ao lado
dos europeus, suspeita ter objetivos militares. O Irã argumenta
querer dominar a produção de
combustíveis e a tecnologia dos
reatores para produzir energia.
Com agências internacionais
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