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A mando de Chávez, militares tomam portos estratégicos
Sem resistência, soldados guardam Puerto Cabello e Guamacha, em Estados da oposição
Opositores afirmam que medida do presidente viola Constituição; apesar de ação, operações nos locais seguem em ritmo normal
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Apesar de promessas de resistência, militares venezuelanos ocuparam ontem sem incidentes dois importantes portos
do país administrados por governos estaduais da oposição,
uma dia depois de o presidente
Hugo Chávez ter ordenado a
intervenção.
Em Puerto Cabello (212 km a
oeste de Caracas), o mais movimentado do país, militares da
Guarda Nacional (GN) chegaram na madrugada e passaram
a vigiar a entrada e o pátio interno. Mas os trabalhos tiveram ritmo normal, segundo os
meios de comunicação locais.
Já a tomada do porto de Guamacha, em Nueva Esparta
(mais conhecido como Isla
Margarita), foi feita com uma
fragata da Marinha. Cerca de
200 homens desembarcaram e
assumiram a custódia das instalações, segundo informações
do canal de TV "Globovisión".
Até o fechamento desta edição, o porto de Maracaibo ainda não havia sido militarizado.
Localizado no Estado de Zulia
(oeste), é uma das principais
vias de escoamento da produção petroleira do país, responsável por 94% das exportações.
Ameaçado de prisão por Chávez, o governador de Zulia, Pablo Pérez, disse que não tem
"medo de tanques nem fragatas", mas não disse se tomará
medidas para resistir à determinação do presidente.
Anteontem, Chávez afirmou
que a ação se baseia numa reforma da Lei de Descentralização aprovada na última quinta
pela Assembleia Nacional, de
maioria governista. A mudança
-que na prática não entrou em
vigor por não ter saído na "Gazeta Oficial"- autoriza o Executivo nacional a intervir em
portos, aeroportos e estradas
em caso de "prestação de serviços deficiente ou inexistente".
O presidente acusou os governadores opositores de terem instalado "máfias" dentro
dos portos, facilitando o narcotráfico -o país é atualmente
um dos principais corredores
da cocaína colombiana.
Em resposta, o governador
opositor de Carabobo, Henrique Salas Feo, disse que grande
parte das instalações de Puerto
Cabello já é controlada por
"máfias" ligadas a Chávez e responsabilizou o seu antecessor,
o chavista dissidente Luis Felipe Acosta Carlez, pela situação.
"Os donos dos pátios e dos armazéns do porto de Puerto Cabello são ministros, militares
ativos e máfias encrustrados na
capital (...) que buscam cuidar
dos seus bolsos", disse Salas
Feo ao jornal "El Universal".
Ontem, Salas Feo entrou
com uma medida cautelar contra a reforma da Lei de Descentralização na Sala Constitucional do TSJ (Tribunal Supremo
de Justiça), controlado pelo
chavismo. Ele também prometeu anunciar hoje "ações de
rua" contra a intervenção em
Puerto Cabello.
O principal argumento da
oposição é que a reforma contraria a Constituição, pela qual
é "competência exclusiva dos
Estados (...) a conservação, administração e aproveitamento
das estradas e autopistas nacionais, assim como de portos e
aeroportos de uso comercial,
em coordenação com o Executivo nacional".
Puerto Cabello é administrado pelo Instituto Porto Autônomo de Puerto Cabello, subordinado ao governo estadual
de Carabobo, onde está situado
um dos maiores parques industriais do país. Seu presidente,
Abdón Vivas O'Connor, foi nomeado por Salas Feo.
"Culpa do império"
Em defesa de Chávez, os 18
governadores chavistas (de um
total de 24) emitiram ontem
um comunicado respaldando a
reforma da Lei de Descentralização e defendendo a intervenção nos três portos controlados
por governos da oposição.
"O imperialismo, sobretudo
o representado pelas multinacionais, (...) lançou uma campanha constante de manipulação
no contexto da propagação da
ideologia neoliberal destinada
a impor o desmembramento
dos Estados pela via de despojá-los de suas faculdades constitucionais e legais, fragmentando-os territorialmente (...) e
deixando apenas funções elementares nas mãos de um Estado debilitado", diz o comunicado, lido durante entrevista
coletiva em Caracas pelo governador chavista de Anzoátegui,
Tarek William Saab.
Apesar de Chávez ter ameaçado intervir também nos aeroportos regionais, ontem não
houve ação nesse sentido.
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