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Eleito por ex-guerrilha, salvadorenho acena aos EUA
Mauricio Funes chega à Presidência do país centro-americano após décadas de governos conservadores e prega "reconciliação nacional"
DA REDAÇÃO
O presidente eleito de El Salvador, Mauricio Funes, da ex-guerrilha de esquerda FMLN
(Frente Farabundo Martí de
Libertação Nacional), prometeu ontem fazer um governo de
reconciliação nacional e de estreitos laços com os EUA, um
dia após pôr fim nas urnas a
duas décadas de gestão conservadora no país.
"Desejo uma política exterior
independente. Quero a integração centro-americana e o fortalecimento da relação com os
EUA", disse Funes a milhares
de apoiadores no discurso de
vitória, anteontem à noite.
Pouco antes, a Arena (Aliança Republicana Nacionalista),
no poder desde 1989, admitira a
derrota -51,27% dos votos para Funes contra 48,73% do engenheiro e ex-chefe de polícia
Rodrigo Ávila.
Foi uma vitória histórica da
ex-guerrilha FMLN, convertida em partido político em 1992,
com o acordo de paz que encerrou 12 anos de guerra civil na
qual lutou contra o governo,
apoiado militarmente por Washington. Cerca de 75 mil pessoas morreram no conflito no
país centro-americano.
Funes citou o bispo da Teologia da Libertação Oscar Romero, ícone da resistência na guerra civil, morto a tiros por paramilitares em 1980 enquanto rezava uma missa. "Monsenhor
Romero disse que a igreja tinha
uma opção preferencial pelos
pobres. Isso eu farei: favorecer
os pobres e os excluídos."
Tanto no discurso quanto
nas primeiras entrevistas como
presidente eleito, o jornalista
Funes, 49, seguiu a cartilha de
pragmatismo da campanha.
"Este não é um tempo de vingança. É de entendimento."
O Departamento de Estado
parabenizou Funes pela vitória
e reiterou que Barack Obama
cooperará com o novo governo,
que toma posse em 1º de junho.
A campanha governista havia
inflado temores de que seu
triunfo atrapalharia as cruciais
relações com a Casa Branca
-em 2004, essa foi a mensagem da gestão Bush.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conhece o salvadorenho há anos, também telefonou para felicitá-lo. Funes é
próximo do PT e casado com a
advogada paulistana Vanda
Pignato. Sua campanha foi dirigida por João Santana, marqueteiro petista.
Desafios
Funes assumirá um país com
mais da metade da população
abaixo da linha de pobreza e,
como os vizinhos de América
Central, profundamente dependente da economia americana, hoje em crise.
Cerca de 18% do PIB do país
vem de remessas enviadas pelos mais de 2 milhões de salvadorenhos que vivem nos EUA.
Também enfrentará a maior taxa de homicídios do continente
-63 para cada cem mil habitantes- e quadrilhas ligadas
aos cartéis mexicanos.
No front político, o presidente eleito também terá de fazer
alianças. A FMLN elegeu a
maior bancada da Assembleia
Legislativa, em janeiro, duas
cadeiras a mais que a direita.
Para maioria qualificada, porém, terá de fazer acordos com
partidos de centro, como o Democrata Cristão.
Com agências internacionais
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