São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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EUA pressionam líder do Paquistão

Segundo diplomatas, Washington usou ajuda financeira para que aliado recuasse e restituísse juiz

Pressão veio ainda das ruas, onde protestos eclodiram desde cassação dos direitos de ex-premiê Sharif; partido governista dá sinais de cisão

DA REDAÇÃO

Washington usou sua ajuda financeira ao Paquistão para pressionar o governo aliado a conter o tumulto social, fomentado pela recusa de Islamabad de restituir os juízes afastados pelo ex-ditador Pervez Musharraf -uma promessa de campanha do PPP (Partido do Povo Paquistanês) vetada pelo presidente Asif Ali Zardari.
A crise foi contornada ontem, com o recuo de Islamabad, que acatou as principais demandas dos manifestantes e cedeu à pressão das ruas, da Casa Branca e das próprias Forças Armadas. Em pronunciamento recebido com festa nas principais cidades, o premiê Yousuf Gilani anunciou a volta dos juízes e a libertação das centenas de pessoas que foram detidas durante os protestos.
O retorno do presidente da Suprema Corte, Iftikhar Chaudhry, é uma derrota política para Zardari, que teme o cancelamento de sua anistia em processos por corrupção. O governo estuda um pacote constitucional, que deve reduzir os poderes da Presidência, inflados durante o regime militar de Pervez Musharraf, no poder até o ano passado.
Para a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a volta de Chaudhry é "o primeiro passo de uma reconciliação muito necessária ao Paquistão". Hillary não confirmou a informação, vazada por diplomatas, de que tenha usado a ajuda dos EUA para pressionar por um acordo entre Zardari e o ex-premiê Nawaz Sharif, do PML-N (Partido da Liga Muçulmana-Nawaz), principal legenda da oposição.
A estabilidade do país é crucial para o projeto dos EUA de pacificar o vizinho Afeganistão -as regiões de fronteira são base do Taleban.
Hillary conversou no sábado com Zardari e Sharif e pode ter sido uma das "fiadoras" da guinada conciliatória de Islamabad. O envolvimento de terceiros na negociação era uma exigência de Sharif.
Rivais históricos, o centro-esquerdista PPP e o PLM-N (conservador moderado) uniram-se no combate a Musharraf, mas romperam após divergência sobre a indicação de Zardari para a Presidência e o descumprimento do acordo sobre a volta dos juízes.
A cassação dos direitos políticos de Sharif e de seu irmão -governador do Punjab, substituído por um aliado de Zardari- foi o estopim da recente onda de protestos pela volta dos magistrados.
Com sólida maioria, o PPP não precisa dos deputados do PLM-N para governar. Mas a recusa em restituir os juízes afastados, a repressão aos protestos e a tentativa de censurar a imprensa rachou o partido, tradicionalmente o mais progressista do país.
A ministra da Informação, Sherry Rehman, pediu demissão no sábado, em protesto contra a tentativa de censura às TVs, atribuída à Presidência. No domingo, a repressão aos protestos em Lahore -capital do Punjab e segunda maior cidade paquistanesa- culminou com a deserção da polícia, que passou a apoiar os manifestantes, com endosso de seu superintendente local.
Após duas horas de embates em Lahore, a polícia recuou e multidões passaram a ocupar a região com bandeiras com retratos de Sharif. O ex-premiê, que desafiara a ordem de prisão domiciliar para se unir aos protestos, seguiu em carreata até a capital, Islamabad, e chegou a anunciar o "prelúdio" de uma revolução, mas recuou após ter suas demandas atendidas.


Com agências internacionais


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