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Projeto contra homossexuais gera divisão na igreja ugandense
DO ENVIADO A CAMPALA
O projeto de lei que criminaliza a prática homossexual rachou a igreja cristã em Uganda,
uma das instituições mais influentes do país. As cúpulas católica e anglicana, bem como as
incontáveis pequenas igrejas
de bairro, condenam os gays,
ainda que nem todos defendam
pena de morte para eles, como
propõe projeto de lei em debate
no Congresso.
Mas uma dissidência se
abriu, liderada pelo bispo aposentado da Igreja Anglicana
Christopher Senyonjo, 78, que
por 24 anos foi o responsável
pela diocese de Buganda Oeste,
na fronteira com a República
Democrática do Congo.
Senyonjo, que afirma ter entre seus amigos o colega anglicano Desmond Tutu, sul-africano que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, é um dos líderes da
campanha contra a nova lei antigays. Na semana passada,
apresentou uma petição ao
Parlamento pedindo que o projeto seja derrotado.
"O projeto é draconiano e desumano. Há muita ignorância
sobre a sexualidade humana
neste país", diz ele. Senyonjo,
por conta de sua posição, foi colocado na geladeira pela cúpula
da igreja em Uganda, que por
sua vez é filiada à Igreja Anglicana britânica. Está temporariamente suspenso e não pode
oficiar missas. Ele afirma que
não se importa.
"Quando as pessoas abordam
a sexualidade sob um ponto de
vista puramente religioso, sempre há problemas", declara.
Desde que começou como padre, há mais de meio século,
Senyonjo se interessou pelos
relacionamentos entre casais,
oferecendo conselhos. Primeiro apenas para heterossexuais.
"Mas com o tempo, muitos gays
vieram me procurar. Eu os
aconselho. Não forço ninguém
a se curar", declara.
"Renascidos"
Em Uganda, vigora uma vertente marcadamente conservadora do cristianismo. O fenômeno dos "renascidos", pessoas que se descobriram cristãs
em algum ponto da vida, tem
entre seus adeptos o presidente, Yoweri Museveni, e a primeira-dama, Janet.
Ambos são amigos de outro
"renascido", o ex-presidente
dos EUA George W. Bush. Diversos ministros e deputados
-incluindo o autor do projeto,
David Bahati- também se dizem fervorosamente cristãos.
Mas é nas pequenas igrejas
que pipocam pelo país que a
oposição aos gays e o apoio à lei
são mais intensos. No mês passado, o pastor Martin Ssempa,
da Makerere Community
Church, no centro de Campala,
causou forte reação ao mostrar
fotos de gays na cama, durante
uma palestra. Pretendia denunciar o que eles fazem "entre
quatro paredes".
"Ninguém em Uganda apoia
a homossexualidade, porque
vai contra os mandamentos de
Deus e a cultura tradicional
africana", disse o pastor James
Okurut, número dois na igreja
comandada por Ssempa.
Segundo ele, matar um gay
não é nada de novo em Uganda.
"Em algumas vilas, homossexuais são amarrados a árvores e
deixados para os animais."
(FZ)
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