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PERGUNTAS E RESPOSTAS
O fim dos combates no Iraque deixa em aberto várias questões sobre as consequências do conflito e o futuro da região
DO "INDEPENDENT"
Quantos morreram na guerra?
Do lado da coalizão: 119 americanos foram mortos e quatro estão desaparecidos; e 30 britânicos morreram. Segundo os EUA foram mortos mais de 3.650 combatentes iraquianos. O Iraque não forneceu estatísticas de mortes de
militares, mas afirma que 1.254 civis foram mortos até o dia 3 de
abril. Mais de 5.000 ficaram feridos.
Os iraquianos se sentem libertados?
Num primeiro momento, houve um comportamento ambivalente. A população não estava disposta a tomar as ruas e defender o
regime de Saddam, mas eles estavam extremamente desconfiados
dos verdadeiros motivos da força
estrangeira.
Isso já mudou bastante. A morte de civis por tropas americanas,
os dias de saques sem a intervenção dos americanos e o fracasso
das tentativas de restaurar o fornecimento de água e energia
transformaram essa ambivalência
em hostilidade.
Onde estão as armas de destruição em massa?
A verdadeira questão poderia
ser: havia alguma? Até agora, não
foi encontrado nada em relação a
armas de destruição em massa
químicas, biológicas ou nuclerares. A suposta existência desse arsenal foi o motivo formal da guerra e, por estar no centro da resolução 1.441 da ONU, a única justificativa para o conflito.
O principal conselheiro científico de Saddam Hussein, general
Amer Hammoudi al Saadi, que se
rendeu, nega a existência de armas de destruição em massa. Para
a ONU, no entanto, ele não tem
credibilidade.
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, apresentou em fevereiro provas pouco convincentes
ao Conselho de Segurança da
ONU. Além disso, os EUA agora
admitem que documentos da inteligência "provando" que o Iraque comprou material para construção de armas nucleares foram
falsificados por uma agência de
inteligência ocidental, possivelmente a MI6 (britânica) ou a
Mossad (israelense).
A questão óbvia é: se Saddam tinhas essas armas, por que não as
usou?
Onde está Saddam Hussein?
Há muitos boatos,
inclusive que ele fugiu para a Bielorússia ou que ele está em um
complexo sistema de túneis sob
seus palácios de Bagdá.
Contrariando especulações,
Saddam não foi morto em bombardeio no distrito de Mansur, em
Bagdá. Os catorze corpos encontrados no local eram de civis.
Os iraquianos já estão até falando de "conspirações". A mais
bombástica delas envolveria um
acordo para que Saddam se salvasse -como em 91. Em seguida,
seria levado de volta ao poder.
A ONU deixou de ser relevante?
Há análises que afirmam que os
EUA e o Reino Unido, ao tomarem a lei internacional para si em
nome da ONU, marginalizaram
para sempre a organização. Mas a
Guerra do Iraque é um modelo
para resolver os problemas de armas de destruição em massa em
países como a Coréia do Norte,
Irã e Paquistão?
Mesmo os mais agressivos dentre os falcões de Washington dificilmente defenderiam que um
ataque preventivo é o caminho
para lidar com os "Estados delinquentes". Além disso, o Reino
Unido não os apoiaria de novo.
No final, portanto, os EUA e o
Reino Unido podem ser obrigados a voltar à comunidade internacional, tanto para ajudar na reconstrução do Iraque quanto para empregar pressão diplomática
e desarmar outros países.
Como fica a aliança antiguerra
agora?
Muitos do lado contrário à
guerra -de governos a indivíduos- se encontram divididos. É
difícil ficar indiferente a sinais de
alegria em muitos iraquianos por
causa de deposição de Saddam.
Mas os franceses e os alemães
ainda argumentam que o sucesso
da guerra não justifica a decisão
de abrir um precedente internacional e desafiar a vontade da
maioria da ONU para declarar
uma guerra preventiva contra o
Iraque.
A guerra foi legal?
Depende de para quem se faz
essa pergunta. A visão dos EUA é
de que o Iraque já havia violado
tantas resoluções da ONU que já
passava da hora de uma ação militar, e se a ONU não estava preparada para autorizá-la, os EUA
estavam livres para agir.
A opinião do governo britânico é de que a guerra foi legal porque a resolução 1441 do Conselho
de Segurança da ONU citou todas
as resoluções prévias e pelo menos uma delas previa o uso de
"todos os meios necessários" no
caso do não-cumprimento.
Para a maioria do Conselho de
Segurança, no entanto, essa resolução não continha nenhum gatilho automático para a guerra, que
o termo "sérias consequências"
não significava "todos os meios
necessários" e que seria preciso
uma segunda resolução autorizando a ação militar.
O que aconteceu aos escudos
humanos?
Alguns deixaram o Iraque logo
após o início do conflito; outros
foram deportados por se recusarem a ficar nos alvos. Alguns realmente ficaram em estações de energia e de tratamento de água e
refinerias de petróleo. Nenhum
morreu.
Os contratos de reconstrução
vão para amigos da Casa Branca?
O prêmio financeiro é enorme:
um programa que pode chegar a
US$ 100 bilhões, a serem gastos
desde a reconstrução e modernização da indústria petrolífera até
o levantamento da infra-estrutura
básica, como escolas, hospitais e
prédios públicos. Esse processo já
está sendo bastante conflituoso.
Os EUA parecem estar trabalhando com princípio de que os
vitoriosos devem ficar com o espólio. Os primeiros contratos de
reconstrução foram ganhos pela
agência de desenvolvimento
USAid, subordinada ao Departamento de Estado, como medida
emergencial. As firmas americanas começaram na frente, e mesmo companhias britânicas estão
sendo deixadas para trás.
A "Doutrina Rumsfeld" saiu vitoriosa?
A teoria do secretário da Defesa
Donald Rumsfeld é que os EUA
têm o direito de se proteger agindo preventivamente para evitar
uma ameaça externa. O Iraque
constituía uma ameaça desse tipo.
Se o Iraque representa agora uma
ameaça menor, depende do futuro próximo e de qual é a definição
de "ameaça". Saddam foi deposto, mas o resultado poderá ser a
multiplicação de atos terroristas
contra os americanos.
Devido ao fato de que Powell e
Rumsfeld discordavam publicamente durante a política diplomática que precedeu a guerra, a
vitória de Rumsfeld automaticamente significa a derrota de Powell e seu multilateralismo. Ficou
evidente, no entanto, que Powell
havia perdido sua disputa com
Rumsfeld mesmo antes do fracasso na ONU. Powell parecia ter sido cooptado a apresentar uma face do governo Bush mais palatável ao resto do mundo. Isso lhe
custou credibilidade e afetou seu
poder de decisão.
Este é o primeiro passo para o
reordenamento do Oriente Médio?
Pode ser que sim, mas depende
de uma série de fatores, sobretudo
se Washington -nunca reconhecida por sua paciência- está preparada para levar adiante sua tarefa no Iraque. Se o país pós-Saddam emergir como um lugar mais
livre, próspero e democrático, a
visão de um Estado-modelo pode
se realizar. Outros países, como
Egito e Arábia Saudita, podem ficar sob intensa pressão interna
para mudar suas práticas.
É pouco provável que os EUA
empreguem força militar num futuro próximo, mesmo contra a Síria, que se tornou recentemente
sócia do "eixo do mal". Washington avalia que o exemplo iraquiano servirá de lição para os outros,
mesmo em Damasco e Teerã. A
crença é que pressões diplomáticas e econômicas serão o suficiente.
Os curdos iraquianos lutarão
por independência?
Não. Os curdos iraquianos, com
sua linguagem e cultura próprias,
certamente acreditam que têm o
direito à autodeterminação. Eles
foram brutalmente oprimidos
durante décadas -300 mil foram
forçados a fugir da campanha de
limpeza étnica de Saddam, que
assentava árabes em suas cidades
e vilas. No entanto, em razão dos
últimos 30 anos e pelo fato de que
estão cercados de vizinhos hostis,
eles admitem que uma grande dose de autonomia dentro de uma
federação iraquiana é a melhor
opção possível, principalmente
por ter direito a voz em um futuro
governo central.
Ahmed Chalabi, líder do Congresso Nacional Iraquiano (CNI),
é apenas um fantoche americano?
Poucas personalidades estrangeiras polarizam tanto o governo
Bush quanto ele. Mas Chalabi, líder do grupo de oposição no exílio mais visível antes da guerra,
deve ter uma grande influência no
novo governo iraquiano.
Chalabi, que havia deixado a
Jordânia antes de uma condenação por fraude, insiste, de seu
quartel-general, em Nassiriah,
que não tem a intenção de assumir um papel de liderança no Iraque. Mas Chalabi -depois de
duas décadas de oposição a Saddam e de sobreviver a nove supostas tentativas de assassinato- dificilmente ficará de fora do páreo.
A CIA, que, junto com o Departamento de Estado, se opõe a Chalabi, vazou recentemente um relatório que conclui que ele tem pouco apoio, mesmo dentro de sua
comunidade xiita. No Iraque, seria considerado mais um oportunista do que um salvador.
Seus aliados no Pentágono e o
vice-presidente Dick Cheney, no
entanto, o consideram um democrata convicto e moderno.
E as supostas ligações com a Al
Qaeda?
Depois dos atentados de 11 de
setembro de 2001, o governo Bush
passou a afirmar que havia ligações entre a Al Qaeda e o Iraque,
com o objetivo de centrar foco no
regime de Saddam. A campanha
foi um sucesso: cerca de metade
dos americanos acredita que Saddam foi o responsável pelos ataques. Mas até agora não há nenhuma evidência disso.
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