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IRAQUE OCUPADO
Com aumento da violência, presidente acaba admitindo que entidade tenha papel central na transição
Pressionado, Bush aceita proposta da ONU
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Pressionado pela atual onda de
violência no Iraque, o presidente
George W. Bush concordou ontem em adotar uma nova proposta sugerida pela ONU para a transição no país, em 30 de junho.
O plano de Lakhdar Brahimi,
enviado especial da ONU, propõe
a constituição de um governo interino formado a partir de consultas aos EUA, ao atual conselho
iraquiano e a outros líderes no
país. Bush anunciou a decisão ao
lado de seu maior aliado, o premiê britânico, Tony Blair, criticado em seu país por seu alinhamento com Bush.
Na Casa Branca, ambos reforçaram o compromisso de manter
tropas no país ao menos até o fim
do processo de transição.
"Brahimi identificou um meio
de estabelecer um governo interino que é bastante aceitável para o
povo iraquiano", afirmou Bush.
"A ONU terá um papel central
no desenvolvimento de um plano
de transição política. Este levará à
implantação de uma democracia
total no Iraque", disse Blair.
Ontem a União Européia cobrou a aprovação de uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o Iraque antes
de 30 de junho. A decisão pode
agora atrapalhar os planos de
Bush, que espera obter mais legitimidade à ação no Iraque sem
perder o seu papel fundamental
no comando do país ocupado.
Bush, que busca a reeleição, sofre ataques e rápida perda de popularidade nos EUA por causa da
piora da violência no Iraque.
Os EUA continuarão concentrando a maior parte do poder no
país, já que devem manter ao menos 115 mil soldados no Iraque e
continuar provendo o grosso do
dinheiro necessário à reconstrução. Os militares americanos também deverão continuar no comando de todas as forças de segurança e dos policiais que vêm sendo treinados no Iraque.
Os EUA também estão se preparando para montar um enorme
corpo diplomático para ocupar
sua nova embaixada em Bagdá,
onde Washington pretende continuar ditando políticas e exercendo sua influência sobre o Iraque.
Apesar da autonomia que será
dada à ONU, os EUA pensam que
o governo interino será fraco,
mantendo o espaço aberto para a
influência americana.
Uma nova resolução do Conselho de Segurança, no entanto, poderia limitar a ação dos EUA e
ampliar além do desejado a participação de outros países.
Bush e Blair foram questionados mais uma vez sobre o fato de
não terem sido encontradas as armas de destruição em massa que
justificaram a guerra ou ligação
entre a rede terrorista Al Qaeda e
o ex-ditador Saddam Hussein.
Mais uma vez, o americano e o
britânico responderam citando o
"momento histórico" que a invasão do Iraque representa.
O governo interino formado pela ONU passaria a mandar no Iraque a partir do dia 30 de junho,
pondo fim à Autoridade Provisória da Coalizão comandada pelos
EUA. A ONU também ficaria encarregada de monitorar todas as
etapas seguintes do processo de
formação de uma Assembléia Nacional Constituinte no Iraque e de
supervisionar eleições que levariam à constituição de um governo eleito no final de 2005.
Com o processo sob o comando
da ONU e de Brahimi, é esperado
que o Pentágono perca, no entanto, força política no atual processo
de transição no Iraque.
O maior aliado do Departamento da Defesa dos EUA no Iraque, o
ex-exilado Ahmad Chalabi (que
está no conselho iraquiano atual),
é visto com desconfiança pela
ONU e deve acabar marginalizado após a adoção do novo plano.
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