São Paulo, sábado, 17 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Premiê diz que tomou "decisão perigosa"

"Não é possível esperar para sempre", diz Sharon ao defender seu plano

WILLIAM SAFIRE
DO "NEW YORK TIMES"

"Em novembro, havia tantos planos em discussão", disse-me o premiê Ariel Sharon anteontem, pouco antes de embarcar de volta para Israel após seu encontro com o presidente George W. Bush. "Planos sauditas, de Genebra, da Liga Árabe. E percebi que não havia como resistirmos a essas pressões sem que apresentássemos o nosso plano."
"O que eu podia fazer? Destruir a Autoridade Nacional Palestina? Não. Israel não pode arcar com a responsabilidade pelas vidas de 3,5 milhões de palestinos. Assinar um acordo de paz? Não. O terrorismo recomeçaria. Deixar as coisas como estavam? Não. Acompanhei tudo em Israel, desde a Guerra de Independência [1948-49], e é minha responsabilidade lidar com a questão, agora", disse.
"Discuti a situação comigo mesmo e desenvolvi uma nova iniciativa". Ele a chama "Plano de Retirada", mas a proposta receberá os elogios e as críticas que decerto lhe estão reservados sob o nome de "Plano Sharon".
Como os líderes palestinos permitiram que os terroristas travassem sua guerra contra Israel, pondo fim às esperanças em relação ao plano de paz que vinha sendo discutido, Sharon propôs estabelecer a segurança sem eles.
"Tive de tomar a perigosa decisão de transferir alguns de nossos colonos", afirmou Sharon . "Em Israel, a direita não gosta de me ver agindo assim. E a esquerda não teria como fazê-lo. Mas não é possível esperar para sempre."
Nesta semana, o presidente Bush chocou os ditadores árabes e seus acólitos nas Nações Unidas e na União Européia ao tomar o "sim" de Sharon como resposta. Pela primeira vez, o governo americano classificou como "pouco realista" a idéia de que Israel se veja forçado a "um retorno completo e incondicional às linhas do armistício" (evitando a palavra "fronteiras" e as controvérsias que acarreta) de 1949. O realismo que começa a ser exibido trata dos "centros de considerável população israelense" existentes.
O documento de Bush também trata com realismo o recurso que Iasser Arafat usou para romper o acordo que o então presidente Bill Clinton acreditava ter mediado: um "direito de retorno" que inundaria Israel de palestinos. Bush deixou claro que os refugiados retornariam a um Estado palestino e não assumiriam o controle do Estado judaico. Sharon acrescentou: "Não alimentem falsas esperanças. Nossa resposta será não".
O apoio histórico e inequívoco dos Estados Unidos a termos que o mundo sabe necessários a uma solução envolvendo a coexistência de dois Estados transfere a pressão por negociações pacíficas ao lugar devido: aos palestinos, que precisam tomar o controle de seu destino, hoje arrebatado por fanáticos cujo objetivo jurado é destruir Israel. Como os iraquianos estão aprendendo, no mesmo momento, a liberdade nacional só surge para aqueles que têm a coragem necessária para controlar os extremistas violentos.
Bush conseguiu convencer Sharon a relaxar as medidas que perturbam as vidas dos palestinos que moram ao longo da muralha e a adiar a construção de uma barreira no vale do rio Jordão. Sharon removerá os cerca de 7.000 israelenses que vivem na faixa de Gaza até o final do ano que vem, e o movimento dos colonos judaicos está furioso.
Mas tendo prometido "compromissos penosos" -um código para retiradas- antes das recentes eleições, Arik espera continuar no poder, sobrevivendo à votação da questão em seu partido, o Likud, no início de maio, e à possível deserção de parceiros de coalizão.
"Não estou me vangloriando [ele usou a palavra russa para "vangloriar'], mas ninguém suspeita que eu esteja disposto a comprometer a nossa segurança." Se os partidos de extrema direita o abandonarem, ele formará um governo com os trabalhistas, liderados por seu velho rival Shimon Peres. O processo judicial que ele pode vir a sofrer por corrupção? "Uma terrível calúnia."
Ele fala com grande respeito sobre o secretário de Estado, Colin Powell, e de maneira quase reverente sobre Bush. "Algo em sua alma o levou a agir com grande coragem contra o terrorismo mundial. Ainda que sofra pressão constante, não mudou de idéia."
Que reação o democrata John Kerry terá ao Plano Sharon, na opinião dele? "Espero me encontrar com Kerry em minha próxima visita, no mês que vem."


Texto Anterior: Entretenimento: Jovens imitam vilões de novela, diz estudo
Próximo Texto: Sharon
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.