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ORIENTE MÉDIO
Premiê diz que tomou "decisão perigosa"
"Não é possível esperar para sempre", diz Sharon ao defender seu plano
WILLIAM SAFIRE
DO "NEW YORK TIMES"
"Em novembro, havia tantos
planos em discussão", disse-me o
premiê Ariel Sharon anteontem,
pouco antes de embarcar de volta
para Israel após seu encontro com
o presidente George W. Bush.
"Planos sauditas, de Genebra, da
Liga Árabe. E percebi que não havia como resistirmos a essas pressões sem que apresentássemos o
nosso plano."
"O que eu podia fazer? Destruir
a Autoridade Nacional Palestina?
Não. Israel não pode arcar com a
responsabilidade pelas vidas de
3,5 milhões de palestinos. Assinar
um acordo de paz? Não. O terrorismo recomeçaria. Deixar as coisas como estavam? Não. Acompanhei tudo em Israel, desde a Guerra de Independência [1948-49], e é
minha responsabilidade lidar
com a questão, agora", disse.
"Discuti a situação comigo mesmo e desenvolvi uma nova iniciativa". Ele a chama "Plano de Retirada", mas a proposta receberá os
elogios e as críticas que decerto
lhe estão reservados sob o nome
de "Plano Sharon".
Como os líderes palestinos permitiram que os terroristas travassem sua guerra contra Israel, pondo fim às esperanças em relação
ao plano de paz que vinha sendo
discutido, Sharon propôs estabelecer a segurança sem eles.
"Tive de tomar a perigosa decisão de transferir alguns de nossos
colonos", afirmou Sharon . "Em
Israel, a direita não gosta de me
ver agindo assim. E a esquerda
não teria como fazê-lo. Mas não é
possível esperar para sempre."
Nesta semana, o presidente
Bush chocou os ditadores árabes e
seus acólitos nas Nações Unidas e
na União Européia ao tomar o
"sim" de Sharon como resposta.
Pela primeira vez, o governo americano classificou como "pouco
realista" a idéia de que Israel se veja forçado a "um retorno completo e incondicional às linhas do armistício" (evitando a palavra
"fronteiras" e as controvérsias
que acarreta) de 1949. O realismo
que começa a ser exibido trata dos
"centros de considerável população israelense" existentes.
O documento de Bush também
trata com realismo o recurso que
Iasser Arafat usou para romper o
acordo que o então presidente Bill
Clinton acreditava ter mediado:
um "direito de retorno" que inundaria Israel de palestinos. Bush
deixou claro que os refugiados retornariam a um Estado palestino
e não assumiriam o controle do
Estado judaico. Sharon acrescentou: "Não alimentem falsas esperanças. Nossa resposta será não".
O apoio histórico e inequívoco
dos Estados Unidos a termos que
o mundo sabe necessários a uma
solução envolvendo a coexistência de dois Estados transfere a
pressão por negociações pacíficas
ao lugar devido: aos palestinos,
que precisam tomar o controle de
seu destino, hoje arrebatado por
fanáticos cujo objetivo jurado é
destruir Israel. Como os iraquianos estão aprendendo, no mesmo
momento, a liberdade nacional só
surge para aqueles que têm a coragem necessária para controlar
os extremistas violentos.
Bush conseguiu convencer Sharon a relaxar as medidas que perturbam as vidas dos palestinos
que moram ao longo da muralha
e a adiar a construção de uma barreira no vale do rio Jordão. Sharon removerá os cerca de 7.000 israelenses que vivem na faixa de
Gaza até o final do ano que vem, e
o movimento dos colonos judaicos está furioso.
Mas tendo prometido "compromissos penosos" -um código para retiradas- antes das recentes eleições, Arik espera continuar no poder, sobrevivendo à
votação da questão em seu partido, o Likud, no início de maio, e à
possível deserção de parceiros de
coalizão.
"Não estou me vangloriando
[ele usou a palavra russa para
"vangloriar'], mas ninguém suspeita que eu esteja disposto a
comprometer a nossa segurança." Se os partidos de extrema direita o abandonarem, ele formará
um governo com os trabalhistas,
liderados por seu velho rival Shimon Peres. O processo judicial
que ele pode vir a sofrer por corrupção? "Uma terrível calúnia."
Ele fala com grande respeito sobre o secretário de Estado, Colin
Powell, e de maneira quase reverente sobre Bush. "Algo em sua
alma o levou a agir com grande
coragem contra o terrorismo
mundial. Ainda que sofra pressão
constante, não mudou de idéia."
Que reação o democrata John
Kerry terá ao Plano Sharon, na
opinião dele? "Espero me encontrar com Kerry em minha próxima visita, no mês que vem."
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