São Paulo, sexta-feira, 17 de abril de 2009

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Obama diz esperar sinal de Cuba e cita soltura de presos

Na Venezuela, Raúl Castro responde que está disposto a conversar sobre tudo

A caminho da Cúpula das Américas, líder dos EUA cobra "reciprocidade" de Havana, mas afirma saber que mudança será lenta

Gregory Bull/Associated Press
Obama e Calderón, que também pediu fim de embargo a Cuba

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Ciente de que a questão cubana dominará boa parte de suas conversas na 5ª Cúpula das Américas, que começa hoje em Trinidad e Tobago, no Caribe, Barack Obama passou a bola para o campo do regime castrista. Foi uma tentativa de aliviar a pressão dos líderes latino-americanos pelo fim do embargo econômico imposto pelos EUA à ilha há 47 anos.
Em entrevista coletiva na tarde de ontem, ao lado do presidente mexicano, Felipe Calderón, e, na noite anterior, à CNN em espanhol, o presidente norte-americano disse e repetiu que cumpriu as promessas de campanha ao eliminar as restrições de envio de dinheiro, de viagem e de comunicações entre cubano-americanos e seus parentes em Cuba.
Agora, afirmou, os EUA esperam um sinal similar de distensão do governo dos irmãos Castro. Se isso acontecer, disse Obama, "poderemos ver um avanço no descongelamento das relações e mais mudanças". Mas avisou: "Uma relação que está efetivamente congelada por 50 anos não vai descongelar da noite para o dia".
"Nós tomamos um importante primeiro passo", disse Obama. "É sinal de que queremos ir além da mentalidade da Guerra Fria que existe há 50 anos. E tenho esperança de que veremos alguns sinais de que Cuba quer reciprocar." Depois, assessores dariam a entender que mesmo o fim do embargo pode ser negociado.
Num tema que seria repisado pela secretária de Estado, Hillary Clinton, em entrevistas ao longo do dia, ele mencionou a libertação de presos políticos, liberdade de expressão e de viagem em Cuba. Ela citou "abertura", mas nenhum dos dois falou em eleições.
Obama chegou mesmo a responder crítica de Fidel Castro, que cobrou o fim do embargo e disse que Cuba não precisava de esmolas. "Ninguém espera que Cuba implore, mas esperamos sinal de que vai haver mudanças em como Cuba opera."

Fim de comissão
O tom de Obama destoa do de seu antecessor, George W. Bush, que via o regime castrista como um inimigo a derrotar. Aos poucos, o democrata desmonta as políticas para o país que tinham como premissa a "mudança de regime".
Entre elas está a chamada Comissão de Assistência para uma Cuba Livre, órgão do Departamento de Estado criado por Bush em 2003 para "cuidar da transição de Cuba para a democracia". Seu coordenador deixou sem alardes a Chancelaria americana.
"Caleb McCarry, indicado pelo presidente Bush para ser o coordenador para a Transição de Cuba, deixou a comissão no fim de 2008. Ele não foi substituído", disse à Folha um funcionário do Departamento de Estado. "A comissão era iniciativa do governo passada. Seu futuro papel e status ainda estão sendo revistos."

Resposta de Raúl
À noite, o dirigente cubano Raúl Castro, que participava na Venezuela de cúpula da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), respondeu que está disposto a discutir "tudo" com o governo americano. Mesmo crítica à política dos EUA, sua fala foi menos agressiva do que a do anfitrião, o presidente venezuelano Hugo Chávez (leia textos à página A10).
Na entrevista à CNN, Obama disse esperar encontrar "interesses comuns" com Chávez, com quem se encontrará pela primeira vez na Cúpula das Américas.
Ainda falando à CNN, Obama usou o Brasil como exemplo para dizer que "os tempos mudaram" na América Latina: "Um país como o Brasil é uma potência econômica e um grande ator no palco mundial". Também sublinhou sua boa relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O brasileiro parece se firmar como interlocutor privilegiado do presidente americano para a região. Os dois conversaram por 15 minutos ontem, por iniciativa de Lula.
O democrata chegou ontem à tarde à Cidade do México, sua primeira visita como presidente a um país latino-americano, onde se encontrou com o presidente Felipe Calderón. Apesar da evidente boa vontade em relação ao novo líder, o clima entre os países é tenso.
Na entrevista conjunta, o mexicano pediu que o americano "reflita" sobre a "utilidade" de manter o embargo a Cuba. Obama embarca hoje cedo para Trinidad e Tobago.


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