São Paulo, sábado, 17 de maio de 1997.



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EUA
Negros do sul não foram tratados de sífilis
Clinton se desculpa por experiência

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York

O presidente Bill Clinton pediu desculpas públicas ontem aos sobreviventes da "Experiência Tuskegee", em cerimônia realizada à tarde na Casa Branca.
A experiência, que aconteceu entre 1932 e 1972, levou cerca de 400 negros norte-americanos com sífilis a passar anos sem ter a doença tratada para que ela pudesse ser mais bem analisada.
Durante o processo, tomavam medicamentos que não faziam efeito, sem ter conhecimento de que não estavam sendo tratados.
Na cerimônia de ontem, cinco dos oito sobreviventes da experiência, que leva o nome da cidade no Alabama (sul) em que foi realizada, estavam presentes. Um deles, Herman Shaw, 94, discursou.
Os outros três que não estiveram na Casa Branca assistiram à cerimônia via satélite, em Tuskegee. O mais jovem dos oito sobreviventes está com 87 anos.
O pedido de desculpas de Clinton, em nome do governo norte-americano, faz parte do projeto de "reconciliação racial" nos EUA, que o presidente quer transformar em uma das marcas de seu segundo mandato.
Assessores de Clinton acham que a trajetória do presidente lhe dá credibilidade para conduzir, com sucesso, a "reconciliação".
"Nosso governo deve fazer com que as lições de Tuskegee nunca mais sejam esquecidas", disse Clinton, que foi criado no Estado de Arkansas, também no sul.
"Desde criança, superar os conflitos raciais era um de meus objetivos de vida", disse.
O advogado dos sobreviventes, Fred Gray, acha que o pedido de desculpas favorece um processo contra a emissora HBO, que levou a história para as telas com o nome "Miss Ever's Boys".
"O filme é racista, inocenta parcialmente o governo e atribui responsabilidade também aos negros. E agora, quando o próprio governo admite o erro?", pergunta. A HBO diz que retratou fielmente a história e nega que tenha defendido o governo.



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