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JUSTIÇA
Conflito no Congo será 1º caso de tribunal internacional, diz promotor-chefe; EUA, que não integram a corte, não podem ser alvo
Sem os EUA, TPI começa trabalho pelo Congo
DA REDAÇÃO
O primeiro promotor-chefe do
Tribunal Penal Internacional
(TPI), o argentino Luiz Moreno
Ocampo, 50, disse ontem que a
primeira investigação da nova
corte deverá ter como foco o conflito na Província de Ituri, no Congo (ex-Zaire).
O TPI, criado pelo Estatuto de
Roma (1998) e com 90 Estados-membros até o momento, julgará
crimes de genocídio, de guerra e
contra a humanidade. Sediado
em Haia (Holanda), tornou-se
realidade em 1º de julho de 2002 e,
no primeiro ano, recebeu 499 denúncias originárias de 66 países.
Até o momento, nenhuma investigação foi aberta. "Acho que
este é o caso mais urgente e em relação ao qual podemos fazer algo
para evitar mais mortes", afirmou
Moreno Ocampo, empossado em
junho último.
O conflito em Ituri teve início
em 1998 e já matou cerca de 50
mil. É parte de uma guerra mais
ampla no Congo, o terceiro maior
país da África, cujo número de
mortos pode chegar a 3 milhões.
O TPI recebeu seis denúncias
sobre a situação em Ituri, que detalham execuções, estupros, tortura, escravidão sexual e utilização de crianças como soldados.
"São crimes que podem ser caracterizados como genocídio, crimes contra a humanidade e de
guerra e, portanto, estão na jurisdição do Tribunal Penal Internacional", disse o promotor-chefe,
que participou dos processos
contra a junta militar que governou a Argentina nos anos 1980.
As denúncias podem ser enviadas ao TPI por indivíduos que se
considerem vítimas, por ONGs e
também por governos.
Da Alemanha, foram enviadas
93 denúncias. Dos EUA, que não
integram a nova corte, vieram 70.
Em seguida na lista, estão a França (58), o Reino Unido (33), a Holanda (29) e a Espanha (23). Da
África, continente afetado por diversos conflitos, vieram 24 denúncias e, da Ásia, 18. A América
contribuiu com 98 (inclusive as 70
dos EUA) e a Oceania enviou 16.
Mais de cem denúncias dizem
respeito à Guerra do Iraque, embora a maior parte não passe de
protestos. Elas são, no entanto,
inócuas porque nem os EUA nem
o Iraque integram o TPI. "O Iraque não é território do Tribunal
Penal Internacional. Não posso
abrir um processo quebrando as
regras", disse Moreno Ocampo.
O TPI só tem jurisdição sobre
crimes ocorridos nos Estados-membros ou cometidos por nacionais dos Estados-membros.
Ativistas de direitos humanos
esperavam que as primeiras investigações do TPI teriam como
foco justamente o Congo ou a Colômbia, que também vive uma
guerra civil. Ambos os países são
membros-fundadores do TPI.
O TPI é a primeira corte permanente com competência para julgar aqueles que são considerados
pelo direito internacional como
os crimes mais graves.
Anteriormente, foram criadas
cortes excepcionais para julgar
crimes cometidos pelos nazistas e
seus aliados, na Europa, e pelos japoneses, na Ásia, durante a Segunda Guerra Mundial.
Nos anos 90, a ONU criou dois
tribunais, um para julgar os crimes das guerras na ex-Iugoslávia
e outro para o genocídio de Ruanda (ambos em funcionamento).
Com agências internacionais
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