São Paulo, sexta-feira, 17 de julho de 2009

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Cristina tenta abrir diálogo com oposição

Após sair derrotada nas eleições legislativas, presidente da Argentina busca reduzir as frentes de conflito

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Em tentativa de reduzir as frentes de conflito após a derrota nas eleições legislativas, o governo da Argentina abriu nesta semana um diálogo com a oposição, mediante sinais inéditos nos seis anos e meio de era Kirchner -governos Néstor (2003-2007) e Cristina.
O governo recebeu a principal força de oposição na Casa Rosada (sede do Executivo) e acertou com blocos opositores no Congresso uma agenda comum até dezembro, quando assumem metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado, eleitos no último dia 28.
Para analistas, Cristina busca saídas para manter a iniciativa política, após uma reforma ministerial na semana passada que, por ter apenas promovido aliados fiéis, não satisfez a oposição nem a opinião pública.
"Com concessões importantes, o governo procura ganhar tempo para recompor sua liderança dentro e fora do peronismo [partido do governo]", afirmou à Folha a analista política Graciela Römer.
Anteontem, o ministro do Interior, Florencio Randazzo, reuniu-se com representantes do ACS (Acordo Cívico e Social), aliança de centro-esquerda formada por UCR (União Cívica Radical), Coalizão Cívica, Partido Socialista e Consenso Federal -sigla do vice-presidente e opositor Julio Cobos.
A reunião foi a primeira da convocação que o governo lançou após o revés nas urnas para discutir reforma política, com a adoção pelos partidos de prévias obrigatórias e abertas (não restritas aos filiados) para escolher candidatos presidenciais. Acabou incluindo temas propostos pelo ACS, como combate à pobreza e suspeitas sobre as estatísticas oficiais.
Com o chamado, o governo conseguiu ainda causar fissuras na oposição. O partido da deputada eleita Elisa Carrió, que integra a Coalizão Cívica, resolveu não participar e foi alvo de críticas de aliados.
No mesmo dia, os líderes do governo no Congresso reuniram todos os blocos e aceitaram discutir, até dezembro, temas propostos pela oposição. Entre eles, alterações dos chamados "superpoderes" do Executivo para remanejar o Orçamento e de leis que fixam alíquotas de impostos sobre exportações -pivô do conflito tributário do governo com o setor rural.
"A reunião é resultado da situação política. Economizamos várias brigas", afirmou o líder do governo na Câmara dos Deputados, Agustin Rossi.
Como o governo perderá maioria nas duas Casas do Congresso a partir de dezembro, a abertura ao diálogo também foi lida como uma tentativa do governo de manter essas alterações sob controle, submetendo-as à votação em um Congresso onde ainda tem maioria. O governo perdeu as eleições nas cinco maiores Províncias -ao todo, obteve 3 milhões de votos a menos do que no pleito presidencial de 2007.
O governo estendeu pontes ainda para fora do mundo político. Na terça, Cristina convidou a cúpula empresarial e sindical para um jantar na Casa Rosada. Em razão de intervenções estatais na economia, a relação com o setor empresarial passa por turbulência. Chamou ainda os principais dirigentes ruralistas para ato ontem.


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