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Cristina tenta abrir diálogo com oposição
Após sair derrotada nas eleições legislativas, presidente da Argentina busca reduzir as frentes de conflito
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Em tentativa de reduzir as
frentes de conflito após a derrota nas eleições legislativas, o
governo da Argentina abriu
nesta semana um diálogo com a
oposição, mediante sinais inéditos nos seis anos e meio de
era Kirchner -governos Néstor (2003-2007) e Cristina.
O governo recebeu a principal força de oposição na Casa
Rosada (sede do Executivo) e
acertou com blocos opositores
no Congresso uma agenda comum até dezembro, quando assumem metade da Câmara de
Deputados e um terço do Senado, eleitos no último dia 28.
Para analistas, Cristina busca
saídas para manter a iniciativa
política, após uma reforma ministerial na semana passada
que, por ter apenas promovido
aliados fiéis, não satisfez a oposição nem a opinião pública.
"Com concessões importantes, o governo procura ganhar
tempo para recompor sua liderança dentro e fora do peronismo [partido do governo]", afirmou à Folha a analista política
Graciela Römer.
Anteontem, o ministro do
Interior, Florencio Randazzo,
reuniu-se com representantes
do ACS (Acordo Cívico e Social), aliança de centro-esquerda formada por UCR (União
Cívica Radical), Coalizão Cívica, Partido Socialista e Consenso Federal -sigla do vice-presidente e opositor Julio Cobos.
A reunião foi a primeira da
convocação que o governo lançou após o revés nas urnas para
discutir reforma política, com a
adoção pelos partidos de prévias obrigatórias e abertas (não
restritas aos filiados) para escolher candidatos presidenciais. Acabou incluindo temas
propostos pelo ACS, como
combate à pobreza e suspeitas
sobre as estatísticas oficiais.
Com o chamado, o governo
conseguiu ainda causar fissuras na oposição. O partido da
deputada eleita Elisa Carrió,
que integra a Coalizão Cívica,
resolveu não participar e foi alvo de críticas de aliados.
No mesmo dia, os líderes do
governo no Congresso reuniram todos os blocos e aceitaram discutir, até dezembro, temas propostos pela oposição.
Entre eles, alterações dos chamados "superpoderes" do Executivo para remanejar o Orçamento e de leis que fixam alíquotas de impostos sobre exportações -pivô do conflito
tributário do governo com o setor rural.
"A reunião é resultado da situação política. Economizamos várias brigas", afirmou o
líder do governo na Câmara
dos Deputados, Agustin Rossi.
Como o governo perderá
maioria nas duas Casas do
Congresso a partir de dezembro, a abertura ao diálogo também foi lida como uma tentativa do governo de manter essas
alterações sob controle, submetendo-as à votação em um
Congresso onde ainda tem
maioria. O governo perdeu as
eleições nas cinco maiores Províncias -ao todo, obteve 3 milhões de votos a menos do que
no pleito presidencial de 2007.
O governo estendeu pontes
ainda para fora do mundo político. Na terça, Cristina convidou a cúpula empresarial e sindical para um jantar na Casa
Rosada. Em razão de intervenções estatais na economia, a relação com o setor empresarial
passa por turbulência. Chamou
ainda os principais dirigentes
ruralistas para ato ontem.
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