São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010

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CLÓVIS ROSSI

A guerra de Obama só começou


Saem as novas regras do governo americano para bancos; agora, é preciso torná-las internacionais


O PRESIDENTE BARACK Obama ganhou do Senado, na quinta-feira, o arcabouço legal para o que ele próprio chamou desde o princípio de "guerra" contra Wall Street, se se puder tomar essa pequena rua do centro de Nova York como sinônimo de capitalismo financeiro, hoje hegemônico.
O Senado aprovou um conjunto de regras que, de acordo com todos os analistas, configura a maior reforma da regulação financeira desde a crise dos anos 30 do século passado.
Nada mais justo e necessário. Basta acompanhar Obama em sua declaração após a aprovação:
"Estava claro desde que começou a recessão que não era o resultado de nossas típicas quedas econômicas. Era o resultado da irresponsabilidade de certos setores de Wall Street que infectaram toda a economia -irresponsabilidade que custou a milhões de americanos seus empregos [8 milhões, exatamente], e a milhões mais suas poupanças duramente adquiridas. É por isso que empresas não podem obter crédito e é por isso que as famílias não conseguem ver valorizadas suas casas -na verdade, os valores de suas casas desabaram".
Se a "guerra" estava justificada, não quer dizer que ela está ganha pelo simples fato de que o presidente conta agora com o arcabouço legal para atacar essa "irresponsabilidade".
Os republicanos que se opuseram à legislação proposta pela Casa Branca têm um ponto quando argumentam que se opuseram a ela porque dá poderes demais a reguladores que não foram capazes de ver chegar a crise que Obama tão bem descreve.
É um argumento que se assemelha ao que usa George Soros, o megainvestidor que sabe como ganhar dinheiro, mas é um crítico feroz dos buracos que lhe permitem lucrar tanto.
Para Soros, se o mercado não conseguiu autorregular-se, do que dá prova a crise, o Estado tampouco consegue ser eficiente nessa regulação.
O teste dos dois argumentos virá apenas agora.
Mas há um segundo ponto débil na regulação: ela é nacional, não internacional. Não está claro se impedirá as operações arriscadas e obscuras que pretende iluminar, se estas passarem a ser feitas de territórios lenientes em matéria de regulação.
De certa forma, os Estados Unidos fizeram corpo mole em termos de regulação internacional. Não gostam, qualquer que seja o governo, que outros países metam a colher em seus assuntos.
Agora, no entanto, dispõem de regras feitas em casa, o que lhes permite tratar de vendê-las para todas as praças.
Ainda mais que não são incompatíveis com as propostas que estão praticamente prontas no âmbito do FSB, o Conselho de Estabilidade Financeira, formado pelas autoridades monetárias das grandes economias (Brasil inclusive).
Ficaram hibernando por temor de que, uma vez adotadas, os bancos secassem de novo o crédito, que só agora começa de fato a irrigar de novo a economia, dois anos após o início da grande crise.
Resta ainda esperar para ver a reação de Wall Street, que, como diz Obama, fez "lobby maciço" contra a legislação aprovada na quinta-feira. Sentiu os disparos.
Vai se render?


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