São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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ANÁLISE

União fiscal na Europa ajudariaa evitar nova recessão global

SÉRGIO VALE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O imbróglio imenso que se tornou o sul europeu para a zona do euro talvez nos leve a crer que a possibilidade de uma solução ordenada já tenha passado do ponto.
Default da dívida, reestruturação, maiores transferências de recursos para os países em dificuldade, tudo isso parece apenas paliativo. Só uma união fiscal definitiva, com emissão de títulos 100% concentrada numa entidade supranacional, poderia dar credibilidade à moeda única.
Pensar nessa solução extrema, mas irreversível, passa por imaginar o que ocorreria se houvesse uma crise mais profunda, nos moldes do que tivemos com a quebra do Lehman Brothers em 2008.
Os contornos da crise em si não seriam muito diferentes do observado três anos atrás. Haveria uma parada de crédito em escala mundial, em que os bancos europeus sofreriam perdas elevadas.
O contágio seria mais relevante para os países justamente mais frágeis da zona do euro, mas também atingiria o resto do mundo, e passaríamos novamente por um processo recessivo.
Até aqui, nada novo. O problema vem em seguida. O que fazer para sair dessa nova crise.
Basicamente porque os países desenvolvidos estão com escassez de políticas macroeconômicas de estímulo. Já que a crise é fiscal, seria temerário pensar em muito mais gasto público para fazer a economia crescer.
Ao mesmo tempo, as taxas de juros estão próximas de zero na maior parte do mundo desenvolvido.
Mesmo para os emergentes, também não seria tão fácil sair da lama porque eles abusaram de certa forma da política fiscal nos últimos anos. Basta pensar que a dívida pública chinesa, numa hipótese conservadora, já se encontra a 90% do PIB.
Restaria apenas mais injeção de liquidez, com compra maciça de ativos pelos bancos centrais. Mesmo restando isso, parece pouco.
Há solução para tamanho desastre? Só um desmantelamento significativo do sistema do bem-estar social poderia diminuir o tamanho do gasto público e permitir fazer o ajuste fiscal necessário.
Imaginar que poderíamos inflacionar a economia para diminuir a dívida nominal/PIB dependeria de um forte crescimento, como ocorreu na década de 40 nos EUA.
Solução difícil de imaginar. Os emergentes já tomaram dos desenvolvidos o dinamismo do crescimento mundial.
Enfim, a dor da solução pós-crise pode ser muito maior do que baixar o ego agora e abdicar da política fiscal dos países europeus rapidamente.

Sérgio Vale é economista-chefe da MB Associados


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