São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006

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Ex-ditador do Paraguai, Stroessner morre aos 93

Morte ocorreu em Brasília, onde ele estava exilado desde que deixou o governo

General ficou 35 anos no poder, entre 1954 e 1989; nunca retornou ao Paraguai, onde era acusado de mortes e tortura de adversários


LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Exilado no Brasil há 17 anos, o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989) morreu ontem em Brasília aos 93 anos de choque séptico pulmonar decorrente de complicações cirúrgicas. Ele estava internado na UTI havia 18 dias, após uma operação de hérnia.
A família tinha previsto realizar o velório na residência em Brasília e não havia decidido se iria enterrar o corpo do ex-general no Brasil ou repatriá-lo.
O governo paraguaio informou que não será concedida nenhuma honra nesse caso porque o ditador é procurado pelo desaparecimento de dezenas de cidadãos e outras violações de direitos humanos ligados à Operação Condor.
Além disso, o filho do ditador, ex-coronel Gustavo Adolfo Stroessner, também é exilado e não poderia deixar o Brasil para o enterro, sob pena do cumprimento de ordem de captura internacional. O Itamaraty não se manifestou sobre a morte de Stroessner.
Stroessner foi internado no Hospital Santa Luzia após fazer operação de hérnia inguinal bilateral e desenvolver uma pneumonia. Devido ao estado de saúde frágil -tinha doença respiratória, hipertensão, insuficiência arterial e disfunção cardíaca-, Stroessner não se recuperou da pneumonia e passou os últimos quatro dias sob sedativos e auxílio respiratório. Segundo os médicos, pesava somente 45 quilos.
Ontem, às 11h20, sofreu choque séptico de origem pulmonar e falha renal, segundo laudo dos médicos Marcelo Maia e Sérgio Tamura.
"Considerando o poder que ele já teve, é muito significativo que sua morte tenha acontecido no exílio, sem amigos, sem apoio, sem admiração ou respeito dos cidadãos paraguaios, idoso e debilitado", disse à Folha Carlos Miranda, autor do livro "The Stroessner Era" (A Era Stroessner).
Além disso, foi responsável, ao lado do governo brasileiro, pela construção da usina hidrelétrica de Itaipu. Ele foi removido do governo em 1989 pelo golpe liderado pelo general Andrés Rodríguez e fugiu para o Brasil, onde permaneceu exilado desde então.

Legado polêmico
Várias figuras que estiveram no primeiro escalão do seu governo e que ainda continuam no Partido Colorado não fazem a defesa de seu regime.
"Para muitos, ele "morreu" em 1989. As violações dos direitos humanos e o autoritarismo ainda são muito lembrados aqui", disse à Folha a jornalista Patricia Vargas, do jornal "Última Hora", de Assunção.
"Mas algumas pesquisas dizem que, para muitos paraguaios, a economia e a segurança eram melhores em tempos da ditadura."
Quem reivindica abertamente o legado de Stroessner é seu neto, Alfredo "Goli" Stroessner Domínguez. Ele criou no ano passado um movimento dentro do Partido Colorado chamado Paz e Progresso, lema do ditador.


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