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Tragédia atingiu região que prosperava
Departamento de Ica, centro de produção agrícola para exportação, atraía trabalhadores pobres de serras andinas vizinhas
Apesar da proximidade da capital, danos à infra-estrutura dificultam envio de ajuda; governo reage, mas questão é longo prazo
SANTIAGO PEDRAGLIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A região do Peru mais atingida pelo terremoto da quarta-feira é a de Ica, com cerca de
300 mil habitantes, cuja capital
fica a cerca de 300 quilômetros
ao sul de Lima. Trata-se de uma
região tradicionalmente vinícola que vem tomando parte no
boom de exportação agrícola
que está se desenvolvendo em
boa parte da costa peruana nos
últimos anos.
Em Ica, produz-se algodão,
aspargos, páprica e alcachofras.
Nos últimos anos, devido à demanda por mão-de-obra rural,
surgiu uma forte migração de
pessoas vindas da serra localizada no centro-sul do Peru, especialmente de regiões muito
pobres como Ayacucho e
Huancavelica.
A cidade mais atingida foi
Pisco, que parece ter sofrido
um bombardeio. Além de promover o desenvolvimento da
economia agrícola, Pisco é também um porto, pequeno mas
muito ativo.
O governo do presidente
Alan García reagiu com rapidez. Poucas horas depois do
abalo, ele falou ao país pedindo
calma e anunciando que estavam sendo tomadas medidas
urgentes de socorro. O governo
criticou severamente o fato de
que as comunicações telefônicas da região tenham sido interrompidas pelo abalo. A ministra dos Transportes e Telecomunicações, Verónica Zavalla, anunciou que havia exigido
às operadoras de telefonia que
explicassem os motivos do colapso, e afirmou que providências seriam tomadas quanto ao
assunto o mais rápido possível.
Ainda assim, é evidente que,
apesar dos esforços do governo,
o desafio gerado pela emergência è superior às suas forças. A
rodovia Pan-americana Sul, a
via através da qual deve ser deslocado o maior volume da assistência, no momento está bloqueada devido a rachaduras e
deslizamentos de terra. A pista
de aterrissagem do pequeno aeroporto de Pisco também sofreu avaria. A ajuda está chegando com lentidão excessiva,
apesar da proximidade entre a
região e a capital. Em tempos
normais, a viagem demora cerca de três horas e meia.
A população atingida está solicitando urgentemente ataúdes, água e cobertores. A população está desolada, mas sua
atitude é positiva e milhares de
pessoas estão ajudando no trabalho de resgate.
O efeito político do acontecido sobre o governo de Alan
García é impossível de prever.
A rápida reação inicial provavelmente será reconhecida pela população, mas os habitantes
da região atingida e do país avaliarão se o governo está de fato
comprometido para com um
plano de reconstrução, e se o
implementará imediatamente.
O Peru é uma área muito propensa a movimentos sísmicos.
De 2001 para cá, o país passou
por 11 abalos sísmicos consideráveis, quatro dos quais acima
dos 6,5 pontos na escola Richter. Não há como evitar terremotos ou minimizar seus efeitos. É preciso desenvolver uma
capacidade preventiva que, infelizmente, não é cultivada de
maneira sustentada.
SANTIAGO PEDRAGLIO é analista político, colunista do jornal "Peru 21"
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