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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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Para analistas, retomada do diálogo é difícil

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

O Brasil tem credibilidade e pode representar um papel importante no processo de paz entre o governo colombiano e as Farc, mas a retomada das negociações não deve ocorrer num curto prazo devido à radicalização das posições, afirmam analistas colombianos ouvidos ontem pela Folha.
"As possibilidades de paz na Colômbia estão muito distantes. As condições que o governo impõe à guerrilha e as que a guerrilha exige do governo são grandes demais. Provavelmente as negociações de paz não serão implementadas nos próximos anos ", disse Alfredo Rangel, 48, ex-assessor de Segurança Nacional do ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002) e diretor da Fundação Segurança e Democracia, dedicada ao estudo do conflito colombiano.
Embora seja menos pessimista, o cientista político Daniel Garcia Peña, da Universidade Nacional, de Bogotá, também não acredita na retomada das negociações num futuro próximo.
"Num curto prazo, é muito difícil tentar uma negociação, mas é necessário começar desde já a abrir uma possibilidade para o futuro. O único caminho é a ONU. Por isso é muito importante que se estabeleça um contato direto entre as Farc e a ONU como um passo inicial para uma eventual retomada das negociações", disse Garcia Peña, que vê a possibilidade da retomada do diálogo a partir da segunda metade do governo do presidente Álvaro Uribe (agosto do ano que vem).

Brasil
Apesar do cenário difícil, Rangel e Garcia Peña acreditam que o governo Lula tenha condições para ter um papel ativo no processo de paz colombiano.
"O governo brasileiro agora mostra intenções de ter um papel muito mais de protagonista do que o governo anterior [Fernando Henrique Cardoso], que se manteve distante do processo de paz, um pouco na expectativa para ver como o processo se desenvolveria. O governo Lula está demonstrando um interesse maior sobre a situação colombiana e sobre a possibilidade de ter um papel mais ativo. Isso é muito positivo pelo peso que Brasil tem no continente", disse Rangel.
Questionado sobre se o governo Lula gera desconfiança por causa dos contatos entre setores do PT e as Farc, Garcia Peña disse: "Creio que seja o contrário. Lula tem demonstrado que é possível que a esquerda chegue ao poder na América Latina por meio do voto. Isso é uma imensa diferença com as Farc. Por isso, o presidente Lula tem uma vantagem muito grande como intermediador".
Nem mesmo a proximidade de Lula com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez -visto pelo governo Uribe como próximo das Farc-, atrapalharia.
"Lula e Chávez têm diferenças significativas, inclusive sobre a Colômbia. A desconfiança com relação à Venezuela não se repete quando é o Brasil", disse Rangel.


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