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Para analistas, retomada do diálogo é difícil
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
O Brasil tem credibilidade e pode representar um papel importante no processo de paz entre o
governo colombiano e as Farc,
mas a retomada das negociações
não deve ocorrer num curto prazo devido à radicalização das posições, afirmam analistas colombianos ouvidos ontem pela Folha.
"As possibilidades de paz na
Colômbia estão muito distantes.
As condições que o governo impõe à guerrilha e as que a guerrilha exige do governo são grandes
demais. Provavelmente as negociações de paz não serão implementadas nos próximos anos ",
disse Alfredo Rangel, 48, ex-assessor de Segurança Nacional do ex-presidente Andrés Pastrana
(1998-2002) e diretor da Fundação Segurança e Democracia, dedicada ao estudo do conflito colombiano.
Embora seja menos pessimista,
o cientista político Daniel Garcia
Peña, da Universidade Nacional,
de Bogotá, também não acredita
na retomada das negociações
num futuro próximo.
"Num curto prazo, é muito difícil tentar uma negociação, mas é
necessário começar desde já a
abrir uma possibilidade para o futuro. O único caminho é a ONU.
Por isso é muito importante que
se estabeleça um contato direto
entre as Farc e a ONU como um
passo inicial para uma eventual
retomada das negociações", disse
Garcia Peña, que vê a possibilidade da retomada do diálogo a partir da segunda metade do governo
do presidente Álvaro Uribe (agosto do ano que vem).
Brasil
Apesar do cenário difícil, Rangel
e Garcia Peña acreditam que o governo Lula tenha condições para
ter um papel ativo no processo de
paz colombiano.
"O governo brasileiro agora
mostra intenções de ter um papel
muito mais de protagonista do
que o governo anterior [Fernando Henrique Cardoso], que se
manteve distante do processo de
paz, um pouco na expectativa para ver como o processo se desenvolveria. O governo Lula está demonstrando um interesse maior
sobre a situação colombiana e sobre a possibilidade de ter um papel mais ativo. Isso é muito positivo pelo peso que Brasil tem no
continente", disse Rangel.
Questionado sobre se o governo
Lula gera desconfiança por causa
dos contatos entre setores do PT e
as Farc, Garcia Peña disse: "Creio
que seja o contrário. Lula tem demonstrado que é possível que a
esquerda chegue ao poder na
América Latina por meio do voto.
Isso é uma imensa diferença com
as Farc. Por isso, o presidente Lula
tem uma vantagem muito grande
como intermediador".
Nem mesmo a proximidade de
Lula com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez -visto pelo
governo Uribe como próximo das
Farc-, atrapalharia.
"Lula e Chávez têm diferenças
significativas, inclusive sobre a
Colômbia. A desconfiança com
relação à Venezuela não se repete
quando é o Brasil", disse Rangel.
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