São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Pesquisas indicam que a distância de até 12 pontos desapareceu menos de um mês após a convenção republicana

Bush perde vantagem obtida sobre Kerry

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Duas pesquisas divulgadas ontem mostraram o presidente George W. Bush e seu adversário, o democrata John Kerry, empatados na disputa pela Presidência, num sinal de que a vantagem obtida por Bush após a convenção do Partido Republicano, encerrada no último dia 2, evaporou quase instantaneamente.
Segundo a pesquisa do Pew Research Center, para a qual foram entrevistadas 1.275 pessoas entre os dias 11 e 14 de setembro e que tem margem de erro de 3,5 pontos percentuais em ambas as direções, os dois candidatos receberam 46% das intenções de voto. No levantamento anterior, entre 8 e 10 de setembro, o presidente abriu 12 pontos sobre seu adversário e aparecia com 52%.
Uma segunda pesquisa, feita pela Harris Interactive entre os dias 9 e 13 e publicada pelo "Wall Street Journal", deu a Kerry 48% das intenções contra 47% de Bush. A margem de erro nesse caso é de três pontos.
Analistas do Pew atribuíram a rapidez da reversão aos constantes ataques de Bush e sua equipe contra Kerry, que entre outras coisas incluíram insinuações de que o democrata tornaria os EUA vulneráveis ao terrorismo. Entretanto não é possível dizer ainda que a tendência esteja consolidada -a divulgação de uma nova leva de pesquisas está prevista para o fim de semana.
No mesmo dia em que Bush perdeu a vantagem em pesquisas, a rede de TV CBS, uma das três maiores emissoras dos EUA, admitiu que a autenticidade de documentos sobre o histórico militar do presidente apresentado na última semana em um de seus programas é questionável.
A exibição dos registros pelo "60 Minutes", um dos programas jornalísticos mais respeitados da TV americana, reaqueceu o debate sobre o comportamento dos candidatos em seu período de serviço militar, nos dois casos durante a Guerra do Vietnã. Mas, num paradoxo, a polêmica que se seguiu tirou o foco da discussão sobre se Bush descumpriu seus deveres militares e passou-o para a credibilidade da CBS.
Os registros, que remontam ao início dos anos 70, conforme anunciou a CBS, tratam das impressões de um comandante militar de que Bush estaria negligenciando suas obrigações militares graças a privilégios decorrentes de sua rede de contatos.
Apesar de ter aceitado como legítimos os questionamentos, levantados pelo Partido Republicano e por outros meios de imprensa, e prometido investigá-los, a rede manteve sua posição de que os papéis refletem a realidade.
O presidente da CBSNews, Andrew Heyward, declarou que a "história seria apurada até o fim, mesmo que o resultado da apuração contradissesse" a versão inicial da rede. O suposto autor dos memorandos é o coronel Jerry Killian. Um dos questionamentos levantados é tipográfico: o tipo da letra não seria o de uma máquina dos anos 70. Na tentativa de averiguar sua legitimidade, os papéis estão submetidos a exames.
A mesma CBS que levantou o caso exibiu anteontem uma entrevista com a secretária do coronel Killian, Marian Knox, que afirmou que os papéis não são legítimos, embora seu conteúdo seja -ela crê se tratar de uma tentativa de alguém que teve acesso aos documentos de reproduzi-los. "Só sei que eu não os datilografei", disse Knox.
Na época dos fatos contestados, a secretária datilografava para seu chefe uma espécie de diário de trabalho com o objetivo de resguardá-lo de eventuais problemas futuros com Bush.
Aventando uma hipótese mais drástica do que erro jornalístico, a colunista do "New York Times" Maureen Dowd levantou a hipótese de que a divulgação e a conseqüente contestação dos documentos possa se tratar de uma operação do próprio Partido Republicano para destruir a credibilidade da imprensa a respeito do histórico de Bush.


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