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Petropolítica move Chávez por jornada de 97 mil km
Com anúncio de acordos econômicos dúbios, venezuelano soma capital político
Presidente faz o equivalente a 2,4 voltas ao mundo em um mês trocando petróleo por apoio e colecionando visitas a líderes anti-EUA,
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Entre o fim de julho e o de
agosto, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, empreendeu um tour internacional capaz de pôr o mochileiro mais
destemido no chinelo. Foram
cerca de 97 mil km percorridos- o equivalente a 2,4 voltas
ao mundo-, da Rússia à China,
de Angola a Mali e Benin, passando duas vezes por Cuba para
visitar o amigo convalescente,
Fidel Castro. Quando voltou a
seu país, em 1º de setembro,
não por acaso um jornalista venezuelano ironizou: "Hugo
Chávez visita Caracas".
O fim imediato claro foi a obtenção de apoio à sua candidatura para um assento provisório no Conselho de Segurança
da ONU, mas com um pano de
fundo geopolítico de longo prazo tão intrincado quanto a profusão de acordos de cooperação
e promessas de investimentos
alardeados em cada escala.
"Desde que chegou ao poder,
Chávez desenvolveu uma política exterior muito agressiva
que se baseou em duas linhas",
diz o analista político venezuelano Alberto Garrido. "A primeira foi criar alianças para
confrontar os EUA e estabelecer uma nova ordem mundial
de caráter multipolar."
O veículo-chave dessa estratégia é o que Elsa Cardoso, especialista em relações internacionais da Universidade Metropolitana (Caracas), chama
de "instrumento persuasivo": o
petróleo. A Venezuela é o quinto maior produtor.
"Chávez está se projetando
muito internacionalmente e
estabelecendo vínculos por
meio do uso de recursos energéticos como instrumento persuasivo de solidariedade e cooperação. Sua proposta é se tornar líder dos que não têm voz."
Assim, enquanto na Síria assinou com o ditador Bashar Assad um comunicado conjunto
declarando-se "firmemente
unidos conta a agressão imperialista e as intenções hegemônicas do império americano",
em Luanda, Chávez fechou um
acordo "que permitirá à Angola
se libertar das companhias petroleiras ocidentais".
Ao visitar países como o Irã,
porém, seu interesse é maior do
que ter um companheiro para
esbravejar contra os EUA. Para
manter sua política petroleira
extravagante -reduzir a produção para manter alto os preços no mercado internacional- precisa de aliados fortes
na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) .
"Juntos, Irã e Venezuela podem fazer muitos países tremerem", diz Cardoso.
Acordos
Quanto à relevância econômica, o balanço dos acordos
anunciados é dúbio - até porque, segundo muitos dos especialistas ouvidos pela Folha, os
textos dos convênios não são
conhecidos. "Alguns são improvisados. Se a gente segue as
pistas pela imprensa e ouve os
discursos, dá para armar um
inventário", afirma Cardoso.
"Além disso, a Assembléia
Nacional, que está nas mãos do
governo, deixou de exercer a
função que tinha de revisão de
tratados internacionais para
convertê-los em lei, de modo
que esses compromissos se dão
sem que haja muito controle."
"São firmados muitos acordos que depois não são implementados, assinados antes de
que se faça um estudo de factibilidade", afirma ainda Francine Jácome, diretora-executiva
do Instituto Venezuelano de
Estudos Sociais e Políticos.
Por outro lado, é inegável a
importância de alguns desses
convênios. O mais notório foi a
compra de 24 aviões e 53 helicópteros russos em um pacote
de contratos militares no valor
de mais de US$ 3 bilhões.
"A Rússia é hoje a maior fornecedora de armas e se apresta
a ser o motor do desenvolvimento gasífero da Venezuela,
visando se projetar ao sul no
continente", diz Garrido.
Um dos acordos prevê que
estatal russa do gás, a Gazprom, seja responsável pelo desenvolvimento tecnológico do
projeto do gasoduto que interligará Venezuela, Brasil e Argentina.
Já a China promete investir
US$ 5 bilhões nos próximos
seis anos em projetos energéticos na Venezuela -aporte que,
segundo Caracas, permitirá
que as exportações de petróleo
para o parceiro "cheguem a
500 mil barris por dia até
2009" (hoje são 150 mil).
Para isso, negocia-se o investimento chinês no gasoduto
que passaria por Colômbia e
Panamá, barateando o transporte petroleiro pelo Pacífico.
É um passo crucial para diversificar os mercados petroleiros venezuelanos. Hoje, 57%
das exportações -petróleo na
maioria- vão para os EUA.
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