São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Imigrantes impõem dilema a Sarkozy

Africanos expulsos de prédio abandonado em Paris ganham apoio popular e complicam estratégia eleitoral

DELPHINE STRAUSS
DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS

Um ginásio em Cachan, perto do aeroporto de Orly, em Paris, abriga desde o mês passado centenas de imigrantes à espera de alojamento permanente. Antes, eles ocupavam um edifício universitário abandonado irregularmente desde 2003. O prédio foi esvaziado pela polícia -uma decisão do Ministério do Interior vista como tentativa de seu titular, Nicolas Sarkozy, de demonstrar que estava reprimindo os imigrantes ilegais, aos quais foi atribuída a culpa pelos tumultos nos subúrbios pobres de Paris em novembro do ano passado. Sarkozy adotou medidas firmes quanto à imigração e à preservação da ordem pública como peças centrais de sua pré-campanha à Presidência. Mas os problemas dos imigrantes atraíram a simpatia do público. O prefeito socialista de Cachan, Jean-Yves Le Bouillonnec, ofereceu a eles o uso temporário do ginásio. Diversas ONGs apoiaram sua causa. Celebridades foram ao local prestar apoio. Jogadores convidaram 70 pessoas do grupo para assistir à partida de futebol entre França e Itália, no último dia 6. O prefeito identificou construções que poderiam abrigar o grupo, mas não tem autoridade para lhes conceder moradia. Ele pode sofrer pressão renovada para expulsar os imigrantes do ginásio, que fica ao lado de uma escola primária. O prefeito do departamento de Val de Marne, membro da UMP, partido de Sarkozy, ofereceu aos imigrantes acomodação em hotéis enquanto eles esperam por moradia, mas eles recusaram. Alguns dos ocupantes originais do edifício universitário esvaziado aceitaram proposta semelhante, antes que os demais imigrantes se transferissem para o ginásio. Os ocupantes temem que, caso o grupo se divida, os que estão na França ilegalmente sejam detidos e deportados. Se Sarkozy permitir que os imigrantes ilegais continuem no país, pode pôr fim a qualquer esperança de conquistar os votos que conduziram o nacionalista Jean-Marie Le Pen ao segundo turno da eleição presidencial de 2002. Mas detenções em massa prejudicariam sua imagem ao associá-lo a posturas de extrema direita.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Estocolmo alia modelo social à globalização
Próximo Texto: Força chinesa mostra "lado feio" na África
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.