São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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entrevista

"Oposição passou de todo limite"

DO ENVIADO A COBIJA

Na capital de Pando desde sexta-feira, o ministro Juan Ramón Quintana (Presidência) diz que o governo Evo Morales e a oposição chegaram ao ponto mais crítico desde o início da crise política, em novembro do ano passado, quando os governistas aprovaram o projeto de nova Constituição, rejeitado pelos opositores.
"Eles passaram do limite de toda a estratégia de uma força opositora. Esse limite é o genocídio. Não se pode usar o genocídio como um ato de confronto contra o governo nacional", disse Quintana em entrevista à Folha no militarizado aeroporto de Cobija, onde come, dorme e administra o estado de sítio instaurado há cinco dias no departamento.
Um dos principais assessores políticos de Morales, Quintana diz que a oposição "ultrapassou de maneira demencial as suas opções". "Eles se excederam. Explodiram válvulas de gás, assaltaram instituições, querem usurpar as funções do Estado, estão matando gente."
"Isso nos conduz claramente a uma negociação sem condições. É inegociável a investigação desse genocídio. São inegociáveis a investigação, a prisão e o indiciamento de quem fez explodir a válvula, porque isso prejudica a economia interna e também atenta contra a segurança energética regional. É inegociável o assalto às instituições públicas, de outra forma estaríamos convivendo com um Estado anômalo."
O governo chama de "genocídio" as mortes de camponeses após confronto com manifestantes oposicionistas na quinta-feira, na cidade pandina de Porvenir. Ao menos 15 pessoas foram mortas e 106 estão desaparecidas, segundo o governo.
Na semana passada, os departamentos das chamadas "terras baixas" foram palco de protestos, invasões e depredações dos oposicionistas, que rejeitam a nova Carta e exigem maior autonomia em relação a La Paz.
"O presidente já disse: estamos dispostos a discutir a janela para a harmonização entre autonomia [departamental] e a nova Carta", diz Quintana.
Encarregado de coordenar a administração do estado de sítio, com duração prevista de três meses, Quintana afirmou que uma comissão binacional investigará as denúncias de Morales segundo as quais pistoleiros brasileiros participaram dos confrontos em Pando.
O departamento de Pando e o Estado do Acre são um dos principais corredores tanto da cocaína boliviana quanto da peruana. Cobija está separada das cidades de Brasiléia e Epitaciolândia pelo pouco caudaloso rio Acre. (FM)



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