São Paulo, sexta, 17 de outubro de 1997.



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MISÉRIA GLOBALIZADA
Relatório da ONU mostra que 22,8% da população mundial sobrevivem com menos de um dólar por dia
Pobreza absoluta atinge 1,3 bilhão

das agências internacionais

Cerca de 1,3 bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia, apesar do crescimento da riqueza mundial, afirma estudo do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgado ontem em Genebra, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
O número de pobres cresce cerca de 25 milhões por ano, e aproximadamente um quarto da população mundial vive na pobreza, segundo o PNUD. Esse cálculo de pobreza é baseado em definição do Banco Mundial e da ONU sobre pobreza absoluta: as pessoas que vivem com até US$ 370 por ano.
Dados das Nações Unidas sugerem que, a cada minuto, o mundo ganha mais 47 pobres.
A agência da ONU afirma que 840 milhões de pessoas, entre elas 160 milhões de crianças, estão subnutridas. Cerca de 1 bilhão de pessoas são analfabetas e um número ainda maior não tem acesso a água potável.

Há cerca de 840 milhões de pessoas subnutridas no mundo, das quais 160 milhões são crianças, afirma estudo do PNUD


"Se o número de ricos dobrou em 50 anos, o de pobres triplicou", afirma o PNUD.
Em 1947, o planeta tinha uma população de cerca de 2,3 bilhões de pessoas, e o número de pobres (400 milhões) correspondia a 17,3% da população. Em 1997, 1,3 bilhão de pobres correspondem a 22,8% da população mundial (cerca de 5,7 bilhões).
O diretor do programa, James Gustave Speth, estima que um investimento anual de 1% da renda mundial, durante 20 anos, melhoraria a vida de várias centenas de milhões de pessoas.
"Proporcionar acesso universal a serviços de saúde, água potável, educação e planejamento familiar só demandaria um custo anual adicional de US$ 40 bilhões", explicou Speth.
Outros US$ 40 bilhões seriam necessários para que as famílias mais desfavorecidas deixassem o estado de pobreza, segundo Speth.
O montante final, de US$ 80 bilhões, "não chega a 0,5% da renda mundial anual, o que torna a eliminação da pobreza uma proposta razoável", diz Speth.
"O fato de termos agora condições de superar a pobreza nos obriga moralmente a fazê-lo sem demora. A riqueza mundial (que corresponderia à soma dos PIBs nacionais) é da ordem de US$ 25 trilhões e não pára de aumentar", afirmou o coordenador do PNUD.

O PNUD estima que com 40 bilhões de dólares seria possível prover acesso universal a serviços de saúde, água potável, educação e planejamento universal

As desigualdades entre os países, assim como dentro deles, alcançam proporções sem precedentes, acrescentou. A parcela da receita mundial que cabe a 20% dos indivíduos mais pobres da humanidade é de apenas 1,1%.
A parte do comércio mundial dos 50 países menos desenvolvidos, onde vivem 10% da população mundial, caiu pela metade em 20 anos, ficando em 0,3%.
Nos países da Europa Oriental e da ex-URSS, as pessoas vivendo na pobreza passaram de 4 milhões em 1987 para 120 milhões na atualidade, o que representa um quarto da população da região, diz o PNUD.
Entretanto, lembra o estudo, se realizaram enormes progressos em meio século: a riqueza mundial cresceu sete vezes, e mais de 75% da população têm agora acesso aos serviços essenciais.
Desde 1960, a mortalidade infantil nos países em desenvolvimento caiu mais de 50%. A incidência da subnutrição teve queda de 30%.
Em 20 anos, a China e outros 14 países, que representam 1,6 bilhão de pessoas, diminuíram em 50% a parcela da população vivendo abaixo do nível de pobreza.



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