São Paulo, Domingo, 17 de Outubro de 1999
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Relações com o Brasil geraram conflito

de Washington

As fitas com conversas de Richard Nixon sobre a América Latina têm importância histórica porque revelam "sentimentos racistas" do presidente e um conflito maior do que se supunha entre ele e o Departamento de Estado sobre a maneira de conduzir as relações dos EUA com o Brasil.
Essa é a avaliação de Thomas Skidmore, historiador norte-americano e um dos maiores teóricos estrangeiros sobre o Brasil. "Além de confirmar que Nixon gostava de Médici porque seu governo autoritário garantia estabilidade política, as fitas exibem um incrível racismo de Nixon com latinos e negros e indicam grande desacordo do presidente com o Departamento de Estado quando o assunto era ditadura no Brasil."
Segundo Skidmore, as referências de Nixon a ditaduras em povos latinos e na África revelam uma opinião nunca expressa em público. E as restrições do Departamento de Estado de se aproximar do governo brasileiro mostram que a aliança política entre os dois países era mais um produto da vontade pessoal de Nixon do que política institucional.
"Ao menos formalmente, Nixon apoiava as democracias na América Latina. Mas, pelo que percebemos agora, tinha outra idéia sobre o assunto em encontros privados. Democracias simplesmente não eram essenciais. O que Nixon queria era a estabilidade e o combate aos comunistas."
Skidmore vê também contradições na lógica do presidente. "Numa fita, ele diz não se importar com o regime interno dos países, desde que fossem amigos dos EUA. Mas, ao boicotar a economia chilena por causa da política socialista de Allende, Nixon revela que o regime interno era sim importante."
Skidmore diz que parte desse racismo pode ter sido moldado pela única viagem que Nixon fizera à região até aquele momento.
Em 1958, sob o pretexto de comparecer à posse do presidente argentino Arturo Frondizi, Nixon, então vice-presidente, visitou outros países sul-americanos e teve uma recepção desastrosa. "Seu passado anticomunista o transformou num alvo de protestos, e agentes secretos tiveram de apontar suas armas contra multidões que o xingavam." (MA)




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