São Paulo, Domingo, 17 de Outubro de 1999
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PAQUISTÃO
General Musharraf deve anunciar plano que incluiria volta do poder civil
País deve ter governo provisório

das agências internacionais

O novo homem forte do Paquistão, general Pervez Musharraf, promete fazer hoje pronunciamento explicando seus planos para o país. Na terça-feira, ele liderou golpe que depôs o premiê Nawaz Sharif.
Oficiais próximos a Musharraf estariam consultando empresários, banqueiros e intelectuais, na aparente tentativa de embasar o projeto de um governo provisório que devolveria o poder aos civis.
A ruptura institucional levou à interrupção de créditos externos. Os EUA lideram as pressões internacionais pela estabilização da situação paquistanesa. O país possui arsenal nuclear e um litígio histórico com a Índia em torno do território da Caxemira.
Enquanto isso, os paquistaneses se recuperam da surpresa do golpe. "Nunca, nem em mil anos, alguém teria imaginado que Pervez Musharraf pudesse liderar um golpe de Estado", escreveu um historiador do Exército paquistanês, em Islamabad.
Musharraf é um ex-oficial da artilharia e de comandos, condecorado por bravura em duas guerras contra a Índia. Seu vice e amigo, o general Mohammed Aziz, atribui a ele o planejamento detalhado da guerra de fronteiras travada com a Índia neste ano.
Mas, tanto por sua experiência quanto por seu temperamento, Musharraf destoa totalmente do mundo complexo da política de Islamabad. Por ser "mohajir", ou migrante da Índia, não possui afinidade natural com a elite punjabi de Islamabad.
Nas primeiras horas do golpe de terça-feira, no entanto, Musharraf demonstrou alguns fatos que foram cruciais para o êxito da ação.
Em primeiro lugar, o apoio inequívoco que as Forças Armadas lhe dedicam. Na terça-feira, quando o homem que deveria tomar seu lugar no comando do Exército, o general Khwajal Ziauddin, tentou buscar apoio entre os comandantes das divisões das Forças Armadas, não conseguiu.
Em segundo lugar, o general Musharraf demonstrou que Sharif tinha se tornado tão impopular, que o Exército pôde assumir o controle do país sem suscitar qualquer protesto sério.
Mas, para o general Musharraf, a fase fácil já chegou ao fim. Os governos militares já saíram de moda. Quando Zia Ul Haq assumiu o controle do país, em 1977, tinha o apoio dos EUA e contava com uma economia forte, ao contrário do que ocorre hoje.
Acredita-se que a demora de 48 horas entre o golpe e a declaração do estado de emergência, na quinta-feira, ocorreu porque ele estava tentando convencer Sharif a renunciar e revogar sua demissão, tornando possível a retomada de alguma forma de governo parlamentar.


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