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RELIGIÃO
Rivais políticos, o católico John Hume e o protestante David Trimble ganham prêmio pelo acordo na região
Irlanda do Norte leva o Nobel da Paz
ISABEL CLEMENTE
de Londres
Dois rivais políticos da Irlanda
do Norte que se uniram pelo processo de paz, o católico John Hume, do SDLP (Partido Social Democrata e Trabalhista), e o primeiro-ministro protestante David
Trimble, dividem este ano o Prêmio Nobel da Paz. O anúncio foi
feito ontem em Oslo, Noruega.
Hume, 61, e Trimble, 54, foram
premiados por seus esforços em
encontrar uma solução pacífica
para os conflitos religiosos e sociais na Irlanda do Norte, que, nos
últimos 30 anos, custaram a vida
de cerca de 3.500 pessoas.
Os dois foram considerados pelo
comitê do Nobel peças fundamentais para a assinatura do histórico
acordo de paz, em maio último, em
Belfast, e um exemplo para outros
conflitos no mundo.
Gerry Adams, presidente do Sinn
Fein, braço político do IRA (Exército Republicano Irlandês), ficou
de fora da premiação. Ele também
participou dos diálogos de paz.
Ele afirmou, porém, estar satisfeito por Hume e aproveitou para
dizer que "Trimble deve aceitar as
responsabilidades que vêm com
esse prêmio", referindo-se à participação do Sinn Fein no governo.
A premiação de Hume já era alvo
de especulações em Belfast, capital
da Irlanda do Norte.
Para Trimble, a premiação chega
como um reforço à sua posição política, ameaçada pelas críticas dos
correligionários mais radicais que
discordam de alguns termos do
acordo com os quais ele se comprometeu.
Há pendências na implementação do acordo de paz. A mais complicada delas refere-se ao desarmamento dos grupos paramilitares
terroristas, entre eles o IRA.
Gerry Adams insiste em conseguir uma cadeira para seu partido
no governo da Irlanda do Norte,
antes de as armas serem entregues.
Trimble luta pelo oposto.
Para a ala mais radical do UUP
(Partido Unionista do Ulster), de
Trimble, o Nobel foi um julgamento antecipado. Eles afirmam que
ainda não há paz na região.
Em agosto, após o cessar-fogo ter
sido anunciado, um atentado terrorista na cidade de Omagh, de autoria de dissidentes do IRA, deixou
28 mortos e 220 feridos.
O próprio Trimble reconhece
que o processo não acabou. "'Há
muito trabalho a ser feito", disse,
nos Estados Unidos, onde estava
quando o prêmio foi anunciado.
"A premiação é um reconhecimento da comunidade internacional em relação ao acordo. Espero
que (o prêmio) reforce o comprometimento de todas as partes envolvidas, o que inclui total desarmamento", disse Hume.
O comitê do prêmio Nobel disse
que os governos do Reino Unido,
da Irlanda do Norte e dos EUA desempenharam importantes papéis
para o acordo de paz.
"O prêmio Nobel poderá acelerar
o processo de paz", disse o premiê
britânico, Tony Blair. "Eles são
símbolos das duas partes da comunidade, têm assumido riscos pela
paz e têm que assumir mais riscos,
porque o progresso é necessário."
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