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Prêmio influencia acordo, diz estudioso
de Londres
A premiação do primeiro-ministro da Irlanda do Norte, David
Trimple, e do líder do Partido Social Democrata e Trabalhista, John
Hume, para o Nobel da paz deste
ano já era esperada por muitos especialistas.
Os dois são considerados figuras
representativas dos dois lados da
comunidade dividida da Irlanda
do Norte: os protestantes e os católicos.
Uniram suas imagens ainda na
época em que o referendo sobre o
acordo de paz estava nas ruas e
agora enfrentam o desafio de levar
o processo adiante, segundo os estudiosos.
O Nobel chega como uma pequena contribuição psicológica para
eles concluírem o trabalho e superarem sua fase mais difícil, diz Paul
Bew, 48, doutor em política pela
Queen's University, em Belfast -a
mesma universidade onde estudou David Trimble-, e autor de
vários livros sobre os conflitos na
Irlanda do Norte, o mais relevantes
deles "'Between War and Peace"
(Entre a Guerra e a Paz).
Ainda que haja a participação de
outras figuras políticas de destaque na assinatura do acordo, como
o próprio premiê britânico Tony
Blair, o ex-primeiro-ministro John
Mayor e a secretária de Estado da
Irlanda do Norte, Mo Mowlam, os
dois premiados concentram os
maiores esforços nas negociações.
Sem dúvida, diz Bew, ambos têm
sofrido enorme pressão psicológica e precisam manter ao redor de si
a confiança das pessoas que trabalham pelo mesmo motivo.
O maior e único entrave à continuidade do processo, explica o especialista, é o desarmamento dos
grupos paramilitares, ainda não
negociado.
O Sinn Fein, braço político do
IRA (Exército Republicano Irlandês), nas últimas semanas, endureceu o discurso, pedindo um assento no executivo antes de ser
anunciado o desarmamento. O governo da Irlanda do Norte não cede.
São provas de que os sinais de
paz não são tão claros assim, dizem os críticos da indicação do
prêmio Nobel.
"'Há muito a ser feito. E ninguém
sabe a fórmula", diz Bew.
Leia abaixo os principais trechos
da entrevista.
Folha - O prêmio Nobel da paz terá alguma influência prática no desenrolar do processo de paz?
Paul Bew - Uma pequena influência. É preciso compreender
que as premiações não foram nenhuma surpresa. Vêm fortalecer as
relações das pessoas que trabalham com eles pelo processo de
paz. Eles (John Hume e David
Trimple) têm sofrido uma imensa
pressão psicológica desde a assinatura do acordo e ainda há importantes e difíceis pontos para a implementação do acordo a serem resolvidos. Acho que o prêmio chega
como um apoio a mais, já que, há
instantes na política em que eles se
questionam, ainda que acreditem
estar agindo corretamente.
Folha - Entre esses importantes
problemas a serem atacados está o
do desarmamento.
Bew - Esse é o grande e único
problema.
Folha - E esse impasse tem sido
justamente o ponto-fraco que permite aos críticos afirmarem que
ainda não há paz na Irlanda do
Norte.
Bew - Há paz, a questão é entrar
na próxima etapa do processo de
paz, o que terá que acontecer nas
próximas semanas ou nos próximos meses, e inclui a participação
do Sinn Fein (partido que representa o IRA) no poder. A princípio,
Trimple concorda. Mas ele defende a idéia de que as negociações
devem seguir adiante sem mais
ameaças ao público, o que só poderia ser garantido se o Sinn Fein demonstrar vontade e, de fato, destruir parte do pesado armamento
que eles possuem para ações terroristas. Seria uma demonstração de
boa-fé e uma prova definitiva de
que a guerra realmente acabou para sempre. Esse é o problema. Sinn
Fein diz que o acordo não exige isso deles. Afirma que, de qualquer
forma, ele (Gerry Adams) não tem
poderes para convencer os militantes a abrir mão das armas. É
uma dificuldade grande e ninguém
tem a resposta para esse impasse.
Folha - Seria mais fácil resolver o
impasse se o Sinn Fein já tivesse
voz no governo?
Bew - Há caminhos para solucionar o atual impasse. No momento,
a exigência é que as armas sejam
entregues primeiro. Deve haver
atalhos nessa negociação, mas ninguém ainda os conhece ou sabe como eles aparecerão.
Folha - O senhor diria que esse é
outro prêmio Nobel da paz concedido a militantes de processos inacabados?
Bew - Esse processo de paz poderia até desandar, mas já se realizou
muito progresso em diferentes
campos. Avançamos 70% da estrada para encontrarmos a total satisfação. Ainda faltam 30%, de trechos difíceis. O recebimento desse
prêmio não vai resolver esses problemas, de forma alguma, a não ser
pelo segurança que traz para as
partes envolvidas de que o trabalho está sendo reconhecido e que
vale a pena seguir adiante.
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