São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

País dispara mísseis em Gaza e prende dezenas de palestinos na Cisjordânia após emboscada a colonos que matou 12

Israel inicia retaliação ao ataque de Hebron

Lefteris Pitarakis/ Associated Press
Palestinos atiram pedras contra tanque israelense, que lança cortina de fumaça para proteger soldados de ataques, em Nablus


DA REDAÇÃO

Tropas de Israel iniciaram ontem uma campanha de retaliação ao ataque palestino que provocou a morte de 12 israelenses e deixou 15 feridos numa emboscada contra colonos em Hebron (Cisjordânia) na sexta-feira à noite.
Em Gaza, helicópteros israelenses dispararam quatro mísseis contra uma fundição, afirmaram testemunhas. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre vítimas.
Em Hebron, tropas israelenses detiveram dezenas de palestinos, que foram vendados e colocados em ônibus. A presença militar israelense foi reforçada na cidade. Veículos blindados entraram em Hebron e soldados entraram nas casas e em prédios situados em pontos estratégicos.
Em Ramallah (Cisjordânia), veículos militares israelenses voltaram a cercar o QG do líder palestino Iasser Arafat, a Mukata (leia texto abaixo).
No campo de refugiados palestinos de Jenin (Cisjordânia), soldados israelenses mataram um membro da organização extremista Jihad Islâmico, o mesmo grupo que reivindicou responsabilidade pelo ataque de sexta-feira. Uma mulher palestina também morreu na cidade de Nablus (Cisjordânia) quando o disparo de um tanque israelense atingiu sua casa. Aparentemente, essas duas mortes não têm relação direta com o ataque em Hebron.
A emboscada em Hebron foi o mais mortífero ataque na Cisjordânia desde o início da revolta palestina, há dois anos, e ameaça iniciar uma nova espiral de violência no Oriente Médio, apesar dos pedidos dos EUA para que Israel aja com contenção. Washington teme que um agravamento da tensão dificulte seus preparativos para a guerra contra o Iraque.
O Jihad Islâmico apanhou em emboscada colonos que se dirigiam para rezar na Tumba dos Patriarcas (local sagrado para judeus e muçulmanos) e os soldados que os acompanhavam. Outros militares que saíram em socorro dos colonos foram vítimas de pesada artilharia ao longo da estrada que liga Hebron ao assentamento judeu de Kiryat Arba.
"Havia tiros de todos os lados", disse Arik, um israelense apanhado na emboscada à rádio do Exército. "Eu não sabia para onde ir e me atirei ao chão... Foi uma carnificina". Segundo o general Moshe Kaplinsi, comandante do Exército na Cisjordânia, os tiros partiam de todos os lados.
Quatro soldados israelenses, incluindo o comandante de Hebron, coronel Dror Weinberg, foram mortos, além de cinco policiais de fronteira e três civis, afirmou o Exército. Três dos palestinos responsáveis pelo ataque morreram no tiroteio.
O Jihad Islâmico afirmou que o ataque é uma resposta ao assassinato, por tropas de Israel, de um de seus líderes há uma semana.
Quando as notícias da emboscada chegaram às áreas palestinas, dezenas de simpatizantes do Jihad Islâmico no campo de refugiados de Shati, na faixa de Gaza, saíram às ruas para comemorar. Alguns deles efetuaram disparos para o ar. "Isso é uma vingança pelos crimes diários e terríveis massacres cometidos pela ocupação sionista contra nosso povo", disse um homem armado com auxílio de um alto-falante.

Vingança
Os 450 colonos judeus que vivem na cidade palestina de Hebron são considerados dos mais extremistas da Cisjordânia. É possível que o atentado desencadeie uma série de ataques de colonos em busca de vingança, depois que acabar o shabat, o que aconteceria no pôr-do-sol do sábado.
Ultranacionalistas do gabinete do premiê Ariel Sharon também deverão pressionar por uma resposta dura do governo.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que qualificou o ataque como "desprezível", advertiu os palestinos de que ações como essa fazem muito mal à sua causa e pediu o fim de "atos de violência sem sentido". O Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou o ataque de "massacre do shabat". "Nenhum processo político pode prosperar enquanto atrocidades como essa continuarem a ser perpetradas por terroristas palestinos", disse Gilad Millo, porta-voz do ministério.
Colonos israelenses que vivem nos territórios palestinos ocupados têm sido alvos frequentes de ataques palestinos. Pelo menos 1.662 palestinos e 639 israelenses morreram desde o reinício da Intifada. Palestinos e a comunidade internacional consideram os assentamentos ilegais.

Com agências internacionais

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