São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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MÍDIA

Recente ascensão de emissora de Rupert Murdoch reflete guinada política dos EUA como resultado das eleições legislativas

CNN perde liderança para conservadora Fox

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

É difícil dizer o que veio antes, se o ovo da informação ou a galinha do telespectador, mas o fato é que a guinada conservadora dada pelos Estados Unidos nas eleições gerais do último dia 5 já tem seus reflexos na mídia local, que podem ser comprovados pela recente ascensão da emissora de notícias Fox News.
Em pouco mais de um ano, pelo menos desde 11 de setembro de 2001, a empresa de propriedade do empresário australiano Rupert Murdoch bateu em todos os aspectos a pioneira e até então líder CNN, fundada pelo liberal Ted Turner em Atlanta, no começo dos anos 80, e atualmente de propriedade do conglomerado AOL-Time Warner.
Hoje, a Fox já é a maior emissora em número de telespectadores em geral, no horário nobre e em faturamento publicitário (US$ 269,6 milhões em 2001, contra US$ 260,5 milhões da rede concorrente).
A consagração veio nos últimos dias. No último dia 4, véspera das eleições para o Congresso e o governo de alguns Estados, o programa de entrevistas de Larry King na CNN, o líder de audiência do gênero no horário desde sua estréia, há 16 anos, perdeu pela primeira vez para um concorrente, "Hannity & Colmes", um "talk show" transportado do rádio pela Fox News.
Não que "Larry King Live" prime por sua contundência jornalística -pelo contrário, o nova-iorquino eternamente de suspensórios e dono de uma cabeça enorme é conhecido por seu estilo "levanta-a-bola".
Mas o atual campeão, ancorado por Sean Hannity e Alan Colmes, é quase um porta-voz oficial do Partido Republicano e da administração do presidente George W. Bush, os grandes vencedores da disputa eleitoral.
Além disso, ao longo da cobertura das eleições gerais, entre 20h e 3h, horário considerado nobre em dia de voto, a lavada foi ainda maior
A Fox News conseguiu uma média de 2,2 milhões de telespectadores, ou 16% a mais do que o 1,9 milhão alcançado durante o mesmo período nas polêmicas eleições presidenciais de 2000, na qual a disputa acirrada em diversos Estados mobilizou a audiência americana.
Enquanto isso, a CNN chegava em segundo lugar, com 1,9 milhão de telespectadores, despencando incríveis 66% em relação ao dia 5 de novembro de 2000, quando arrastou para a frente da TV cerca de 5,6 milhões de pessoas. Os números são do Instituto Nielsen e tiveram sua metodologia contestada pela emissora de notícias de Atlanta.

"Diversão"
Há quem atribua a virada da Fox News ao estilo de seu diretor-executivo, o norte-americano Roger Ailes, 62, no comando da emissora desde sua fundação, em 1996.
Filho de um operário de Ohio e ex-assessor dos presidentes republicanos Richard Nixon (1969-74), Ronald Reagan (1981-89) e George Bush pai (1989-93), o jornalista não tem papas na língua.
A começar da maneira como se refere publicamente à concorrente: "Crisis News Network".
Alies, que extinguiu o cargo de vice-presidente de marketing, é responsável ele mesmo pela publicidade institucional da Fox News. Foi idéia dele, por exemplo, comprar os direitos do outdoor em frente à sede da CNN em Atlanta, que desde então trazem anúncios da concorrente.
É idéia dele também o caminhão com o slogan da Fox News ("Nós reportamos. Você decide"), que pode ser visto de vez em quando passando ao fundo do estúdio da CNN no centro de Nova York, que conta com uma parede de vidro atrás dos âncoras mostrando o movimento da rua. "É tudo diversão", disse Ailes.

Crítica
Nem todo mundo está rindo. "O slogan verdadeiro deveria ser "Nós reportamos. Nós decidimos'", criticou a revista especializada "Advertising Age".
Com a publicação concorda Emily Whitfield, da ONG liberal ACLU (União Americana das Liberdades Civis, na sigla em inglês), para quem o jornalismo na Fox News é tratado como um "esporte sanguinário".
A briga está só começando, e o telespectador do Brasil já pode acompanhá-la de perto: desde o mês passado, a Fox News passou a ser exibida na TV paga brasileira, como já acontecia com a CNN.


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