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Crescimento torna Morales pragmático
Boliviano se aproxima da Argentina, do Chile e dos EUA e mantém o país na Comunidade Andina, da qual Venezuela saiu
Receita da Bolívia com energia aumenta e acordo com FMI reduz dívida; país deve ter superávit pela
primeira vez em 3 décadas
David Mercado/Reuters
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Evo Morales se beneficia de aumento das receitas do Estado |
RICHARD LAPPER
HAL WEITZMAN
DO "FINANCIAL TIMES", EM LA PAZ
Os pacientes começam a chegar ao hospital de Chacaltaya às
3h30min. Quando os médicos
chegam, às 8h, a longa fila de espera se estende por toda a praça German Busch, em Alto Lima, a parte mais pobre de El Alto, cidade de 850 mil habitantes
localizada acima de La Paz.
O hospital Chacaltaya é a primeira organização médica no
país mais pobre da América do
Sul a tratar pacientes gratuitamente, e sua equipe é composta
por alguns dos 1.200 médicos
enviados ao país por Cuba.
O hospital, que quase todo
mundo acredita seja financiado
pela Venezuela, coloca em destaque o relacionamento que o
presidente boliviano Evo Morales construiu com seus aliados em Caracas e Havana. Mas,
nos últimos meses, La Paz parece estar procurando uma
maior independência em relação à Venezuela e a Cuba.
Morales, cujos cofres estão
repletos de receita fornecida
pelo setor de energia, mostrou
sinais de que deseja se aproximar dos regimes mais moderados, como os Brasil e da Argentina, e de procurar reconciliação com velhos inimigos, o Chile e os Estados Unidos.
Em parte alguma a mudança
é mais clara do que no setor de
energia boliviano. No começo
de maio, Morales anunciou a
nacionalização do setor de gás
natural. Mas, depois de meses
de negociações, a Bolívia optou
por um acordo mais pragmático com dez empresas estrangeiras, entre as quais a Petrobras e a francesa Total.
Oficialmente, a YPFB, estatal
boliviana de energia, assumiu a
propriedade dos campos de gás,
e também supervisionará o
processamento e embarque do
produto. As empresas estrangeiras continuarão operando
no país mas, sob os novos contratos, pagarão até 82% de suas
receitas ao governo, na forma
de royalties e impostos.
Na prática, porém, o acordo
permite que os parceiros estrangeiros descontem das
quantias que devem pagar ao
governo a depreciação do capital investido. Se um aumento
nos preços e na produção de gás
natural for levado em conta, as
empresas estarão se saindo melhor do que no passado.
Morales também optou por
manter a Bolívia entre os membros da Comunidade Andina,
que a Venezuela abandonou no
começo do ano. As expectativas
de que interesses venezuelanos
poderiam adquirir o direito de
exploração da concessão de minério de ferro de El Mutún, no
sudoeste do país, desapareceram em junho, quando o governo chegou a um acordo com a
Jindal, siderúrgica indiana.
Receita
Ao mesmo tempo, Morales
aprofundou suas relações com
a Argentina, tendo assinado um
acordo de longo prazo para fornecer gás ao vizinho meridional. Há negociações em curso
com o Chile, inimigo histórico
dos bolivianos, para a venda de
energia elétrica. A Bolívia se
aproximou dos EUA, oferecendo cooperação para a erradicação da coca.
Uma das razões para a mudança é que a força da economia boliviana dá a Morales
mais espaço de manobra. As receitas auferidas com o aumento
dos preços e dos impostos do
gás, em 2005, significam que a
situação de caixa do governo
deixou de ser precária. O pagamento das dívidas do país, que
deve crescer mais de 5% neste
ano, foi reduzido com um acordo com o Banco Mundial e com
o Fundo Monetário Internacional para o perdão de parte
do saldo devedor boliviano.
O déficit fiscal, que atingiu
um pico de 8,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002,
caiu a 1,6% do PIB no ano passado, e a Bolívia neste ano está a
caminho de registrar um superávit fiscal pela primeira vez
em três décadas. Os pacientes
do hospital de Chacaltaya talvez tenham motivo para agradecer pelo radicalismo de Morales, mas ele está se provando
mais pragmático do que parecia há apenas seis meses.
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI
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