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Para líder grevista, saída de Chávez
é apenas "uma questão de tempo"
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
A greve geral iniciada há duas
semanas na Venezuela só será
suspensa se o presidente Hugo
Chávez renunciar ou convocar
eleições antecipadas, segundo um
de seus organizadores, Alfredo
Ramos. Secretário-executivo da
CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), Ramos é
também um dos porta-vozes informais da Coordenação Democrática, organização que reúne partidos, movimentos e entidades
de oposição a Chávez.
"A resistência do povo é tal que
estamos dispostos a passar até o
Natal nessa luta, até conseguir a
saída do presidente", disse ele em
entrevista à Folha, por telefone,
de Caracas. "Para nós, isso é uma
questão de tempo."
Folha - Após duas semanas de paralisação, há uma radicalização do
movimento grevista?
Alfredo Ramos - Todos os setores
da oposição decidiram aprofundar a luta democrática para a saída do presidente Hugo Chávez. A
manifestação de hoje [ontem] foi
cumprida com muito civismo,
apesar de alguns atos de violência
promovidos por chavistas.
Folha - A greve foi chamada com
o objetivo de forçar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, mas agora a oposição exige a renúncia. Por que essa mudança?
Ramos - Apesar da contundência dessa paralisação, até agora o
presidente Chávez não deu mostras de querer uma saída eleitoral
no país. Obstinadamente, ele insiste em não convocar eleições antecipadas, rechaçando inclusive a
sugestão da Casa Branca. Isso demonstra que estamos diante de
um regime autoritário. Outro
motivo foi o massacre de Altamira [três pessoas mortas em tiroteio, no dia 6, em ato da oposição]. Isso mudou o sentimento da
população em relação à sua luta.
Em 1998, Chávez foi um sentimento nacional contra a velha
classe política. Mas hoje o clamor
nacional é que ele se vá definitivamente do palácio de Miraflores.
Folha - Que meios vocês vão utilizar para forçar Chávez a renunciar?
Ramos - Todo o setor produtivo
do país está paralisado. Estamos à
beira do colapso econômico. A resistência do povo é tal que estamos dispostos a passar até o Natal
nessa luta, até conseguir a saída
do presidente. Para nós, isso é só
uma questão de tempo. Vamos
resistir. Pode durar até mais um
mês, se necessário. Porque não
vamos voltar atrás. Ou Chávez renuncia ou convoca eleições gerais. Não há outra possibilidade.
Folha - Então a paralisação é o
único meio de luta?
Ramos - Não há outro. Isso joga
por terra a tentativa do governo
de nos desqualificar ao dizer que
estamos promovendo um golpe.
Nossa luta será cívica. Combatemos com as únicas armas que temos, que são as panelas, os apitos,
as mobilizações de rua.
Folha - Pode acontecer novamente o que aconteceu em abril?
Ramos - Não. Isso nunca foi proposto por nós. Não estamos falando de golpe, porque para nós isso
está totalmente descartado.
Folha - O governo alega que a
Constituição não permite um referendo antes de agosto nem eleições antecipadas. Exigir isso não é
romper a institucionalidade?
Ramos - Todos os regimes autoritários sempre apelam para isso.
Com qualquer tentativa de saída
dizem que isso viola a Constituição. Chávez novamente se colocou à margem da Constituição.
Ele deu instruções às Forças Armadas para desacatar qualquer
ordem judicial. Também se colocou à margem da lei no caso da
Polícia Metropolitana. Chávez ignora totalmente uma decisão da
Justiça para que ela seja reintegrada à Prefeitura de Caracas.
[Após ser eleito presidente, em
1998" Chávez convocou, em três
oportunidades, referendos, que
não estavam previstos na Constituição de 1961. Porém as pessoas
aceitaram, porque ele ganhou as
eleições e tinha ampla maioria popular. Agora que a maioria do povo pede um referendo, ele diz que
é inconstitucional.
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