São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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Para líder grevista, saída de Chávez é apenas "uma questão de tempo"

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

A greve geral iniciada há duas semanas na Venezuela só será suspensa se o presidente Hugo Chávez renunciar ou convocar eleições antecipadas, segundo um de seus organizadores, Alfredo Ramos. Secretário-executivo da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), Ramos é também um dos porta-vozes informais da Coordenação Democrática, organização que reúne partidos, movimentos e entidades de oposição a Chávez.
"A resistência do povo é tal que estamos dispostos a passar até o Natal nessa luta, até conseguir a saída do presidente", disse ele em entrevista à Folha, por telefone, de Caracas. "Para nós, isso é uma questão de tempo."

Folha - Após duas semanas de paralisação, há uma radicalização do movimento grevista?
Alfredo Ramos -
Todos os setores da oposição decidiram aprofundar a luta democrática para a saída do presidente Hugo Chávez. A manifestação de hoje [ontem] foi cumprida com muito civismo, apesar de alguns atos de violência promovidos por chavistas.

Folha - A greve foi chamada com o objetivo de forçar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, mas agora a oposição exige a renúncia. Por que essa mudança?
Ramos -
Apesar da contundência dessa paralisação, até agora o presidente Chávez não deu mostras de querer uma saída eleitoral no país. Obstinadamente, ele insiste em não convocar eleições antecipadas, rechaçando inclusive a sugestão da Casa Branca. Isso demonstra que estamos diante de um regime autoritário. Outro motivo foi o massacre de Altamira [três pessoas mortas em tiroteio, no dia 6, em ato da oposição]. Isso mudou o sentimento da população em relação à sua luta.
Em 1998, Chávez foi um sentimento nacional contra a velha classe política. Mas hoje o clamor nacional é que ele se vá definitivamente do palácio de Miraflores.

Folha - Que meios vocês vão utilizar para forçar Chávez a renunciar?
Ramos -
Todo o setor produtivo do país está paralisado. Estamos à beira do colapso econômico. A resistência do povo é tal que estamos dispostos a passar até o Natal nessa luta, até conseguir a saída do presidente. Para nós, isso é só uma questão de tempo. Vamos resistir. Pode durar até mais um mês, se necessário. Porque não vamos voltar atrás. Ou Chávez renuncia ou convoca eleições gerais. Não há outra possibilidade.

Folha - Então a paralisação é o único meio de luta?
Ramos -
Não há outro. Isso joga por terra a tentativa do governo de nos desqualificar ao dizer que estamos promovendo um golpe. Nossa luta será cívica. Combatemos com as únicas armas que temos, que são as panelas, os apitos, as mobilizações de rua.

Folha - Pode acontecer novamente o que aconteceu em abril?
Ramos -
Não. Isso nunca foi proposto por nós. Não estamos falando de golpe, porque para nós isso está totalmente descartado.

Folha - O governo alega que a Constituição não permite um referendo antes de agosto nem eleições antecipadas. Exigir isso não é romper a institucionalidade?
Ramos -
Todos os regimes autoritários sempre apelam para isso. Com qualquer tentativa de saída dizem que isso viola a Constituição. Chávez novamente se colocou à margem da Constituição. Ele deu instruções às Forças Armadas para desacatar qualquer ordem judicial. Também se colocou à margem da lei no caso da Polícia Metropolitana. Chávez ignora totalmente uma decisão da Justiça para que ela seja reintegrada à Prefeitura de Caracas.
[Após ser eleito presidente, em 1998" Chávez convocou, em três oportunidades, referendos, que não estavam previstos na Constituição de 1961. Porém as pessoas aceitaram, porque ele ganhou as eleições e tinha ampla maioria popular. Agora que a maioria do povo pede um referendo, ele diz que é inconstitucional.


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